EURÍPEDES

Um autor atual há quase 2.500 anos

   O dramaturgo da antiguidade grega de quem mais se conhece os textos hoje em dia é Eurípedes, que nasceu em 484 ou 485 a.C., em Salamina, e foi um dos três grandes nomes do teatro da época áurea de Atenas, ao lado de Sófocles e Ésquilo. São dezessete dramas e uma peça satírica, incluindo obras primas como “Electra” (413 a.C.), “Medeia” (431 a.C.) e “As bacantes” (406 a.C.), apresentado no ano de sua morte. Não teve grande número de vitórias no festival de teatro de Atenas – apenas quatro – mas era muito respeitado.
   O que se especula é que Eurípedes, durante os festivais, tenha pagado o preço por inovar a fórmula secular do teatro grego. Ele criou alguns artifícios, usados por diversos dramaturgos como o próprio Shakespeare, dois mil anos mais tarde – a apresentação de um prólogo explicativo, deixando o tradicional coro das peças gregas restrito a aparições ocasionais e secundárias, e o chamado “deus ex machina” – um acontecimento absolutamente imprevisto, que surpreende a plateia e altera o rumo da trama.
   Eurípides não tratava com muita reverência os deuses e mitos gregos e, certamente, causou polêmica à época ao destacar o fator humano e desmistificar o poder divino. Os heróis de suas peças – exceção apenas para Hércules – tinham características humanas comuns e, muitas vezes, eram mesquinhos. Ao invés de ação externa constante dos deuses definindo o rumo da vida herói, Eurípedes valorizou os tormentos da consciência humana. Por fim, o dramaturgo foi quem deu voz às mulheres, criando heroínas fortes, que enfrentavam o sofrimento com nobreza e abnegação.
   Além das peças já citadas, a obra preservada de Eurípedes inclui a sátira “O ciclope” e os dramas “Alceste” (438 a.C.), “Os Heráclidas” (430 a.C.), “Hipólito” (428 a.C.), “Íon” (428 a.C.), “Andrômaca” (426 a.C.), “Hécuba” (424 a.C.), “Heracles” (424 a.C.), “As suplicantes” (422 a.C.), “As troianas” (415 a.C.), “Ifigênia em Tauron” (414 a.C.), “Helena” (412 a.C.), “As fenícias” (408 a.C.), “Orestes” (408 a.C.)  e “Ifigênia em Aulida” (406 a.C.).
   Sabe-se que Eurípedes gostava de escrever em isolamento, numa gruta em frente ao mar. Foi casado duas vezes e passou os últimos anos de vida na corte do Rei Arquelau, na Macedônia. Sua morte, em 406 a.C., é um episódio cercado de lendas – ele teria sido estraçalhado por um cão de caça do rei – e causou comoção em toda a Grécia. Sófocles, seu concorrente e admirador, fez o anúncio da tragédia no Festival de Dionísio.

(Parte da coletânea GENTE DE TEATRO, de William Mendonça. Direitos reservados.)