OMAR KAHYYAM
Poeta, astrônomo e matemático persa
Entre os mais importantes poetas do mundo, há sempre aqueles que beiram o lendário, cuja história é cheia de pontos obscuros – François Villon, Geoffrey Chaucer, Camões, entre outros. Pois o mais famoso poeta persa, nascido há quase um milênio, é um desses casos. Omar Kahyyam – que além de exímio poeta, foi o astrônomo responsável pela mudança do calendário persa e um dos maiores matemáticos de todos os tempos – ficou conhecido mundialmente por sua série de poemas chamada “Rubaiyat”, mas o próprio livro é envolto em controvérsia.
Sobre o “Rubaiyat” de Kahyyam pairam dúvidas a respeito de quantas quadras (ou “rubai”) o poeta teria deixado. A edição iraniana de 1461 contém 206 quadras, a francesa de J. B. Nicolas, de 1857, traz 464 e, por mais absurdo que pareça, a tradução brasileira de Manuel Bandeira (feita sobre a tradução francesa de Franz Toussaint, de 1923) e a tradução italiana de Diego Agneli não tem qualquer linha parecida. O próprio Edward Fitzgerald, que empreendeu a mais popular tradução do “Rubaiyat” em 1859, é acusado de tentar “melhorar” o original, sendo pouco fiel ao texto do poeta persa.
Omar Kahyyam teria nascido no ano de 1050 (algumas fontes citam o ano de 1044), em Nishapur, na província persa de Khorassan, filho de um fabricante de tendas. Como era a tradição, chegou a aprender o ofício do pai, porém, um pacto entre amigos pode ter mudado o seu destino. No colégio, Kahyyam tornou-se amigo de dois filhos de famílias nobres falidas, Hassam Sabbah e Abu Ali Hasan Tusi – este último, mais tarde, tornou-se vizir. Os três amigos fizeram um pacto de se protegerem mutuamente, caso algum deles ficasse rico.
Abu Ali Hasan Tusi cumpriu o prometido. Nomeou Hassam Sabbah para um alto cargo no governo – que, posteriormente, entrou em conflito com o sultão e foi banido. Já Omar Kahyyam, que inicialmente recebeu uma bolsa que lhe garantiu uma vida confortável, foi nomeado diretor do observatório astronômico de Merv. Trabalhou na correção do calendário que, graças a ele, passou a ter a margem de erro de apenas um dia a cada 3770 anos. Dedicado à matemática, foi autor de vários livros importantes na área. Passou grande parte da vida buscando uma fórmula para a solução geral das equações cúbicas. Seu tratado de álgebra, traduzido em 1851 por Franz Woepcke, é um clássico.
A poesia de Kahyyam é marcada por uma abordagem hedonista e, muitas vezes, fatalista. Nas palavras de Bandeira, seu mais feliz tradutor para o português, “seu hedonismo, porém, não era o de um egoísta, não excluía a compaixão com o próximo”. Os estudiosos da segunda metade do século XX tendem a rejeitar os poemas místicos incluídos nas versões mais extensas do “Rubaiyat”.
O poeta teria falecido em 1123, na mesma cidade em que nasceu, hoje parte do território do Irã – mas até sobre seu ano de morte pairam dúvidas. O “Rubaiyat” mantém viva por quase um milênio a lenda de um poeta que – como diria Bilac – já ouvia estrelas para fazer poesia, no longínquo século XI.
(Parte da coletânea HISTÓRIAS DE POETAS, de William Mendonça. Direitos reservados.)
Sobre o “Rubaiyat” de Kahyyam pairam dúvidas a respeito de quantas quadras (ou “rubai”) o poeta teria deixado. A edição iraniana de 1461 contém 206 quadras, a francesa de J. B. Nicolas, de 1857, traz 464 e, por mais absurdo que pareça, a tradução brasileira de Manuel Bandeira (feita sobre a tradução francesa de Franz Toussaint, de 1923) e a tradução italiana de Diego Agneli não tem qualquer linha parecida. O próprio Edward Fitzgerald, que empreendeu a mais popular tradução do “Rubaiyat” em 1859, é acusado de tentar “melhorar” o original, sendo pouco fiel ao texto do poeta persa.
Omar Kahyyam teria nascido no ano de 1050 (algumas fontes citam o ano de 1044), em Nishapur, na província persa de Khorassan, filho de um fabricante de tendas. Como era a tradição, chegou a aprender o ofício do pai, porém, um pacto entre amigos pode ter mudado o seu destino. No colégio, Kahyyam tornou-se amigo de dois filhos de famílias nobres falidas, Hassam Sabbah e Abu Ali Hasan Tusi – este último, mais tarde, tornou-se vizir. Os três amigos fizeram um pacto de se protegerem mutuamente, caso algum deles ficasse rico.
Abu Ali Hasan Tusi cumpriu o prometido. Nomeou Hassam Sabbah para um alto cargo no governo – que, posteriormente, entrou em conflito com o sultão e foi banido. Já Omar Kahyyam, que inicialmente recebeu uma bolsa que lhe garantiu uma vida confortável, foi nomeado diretor do observatório astronômico de Merv. Trabalhou na correção do calendário que, graças a ele, passou a ter a margem de erro de apenas um dia a cada 3770 anos. Dedicado à matemática, foi autor de vários livros importantes na área. Passou grande parte da vida buscando uma fórmula para a solução geral das equações cúbicas. Seu tratado de álgebra, traduzido em 1851 por Franz Woepcke, é um clássico.
A poesia de Kahyyam é marcada por uma abordagem hedonista e, muitas vezes, fatalista. Nas palavras de Bandeira, seu mais feliz tradutor para o português, “seu hedonismo, porém, não era o de um egoísta, não excluía a compaixão com o próximo”. Os estudiosos da segunda metade do século XX tendem a rejeitar os poemas místicos incluídos nas versões mais extensas do “Rubaiyat”.
O poeta teria falecido em 1123, na mesma cidade em que nasceu, hoje parte do território do Irã – mas até sobre seu ano de morte pairam dúvidas. O “Rubaiyat” mantém viva por quase um milênio a lenda de um poeta que – como diria Bilac – já ouvia estrelas para fazer poesia, no longínquo século XI.
(Parte da coletânea HISTÓRIAS DE POETAS, de William Mendonça. Direitos reservados.)