Nos seus olhos...

Há sempre algumas verdades inescapáveis, e elas sempre estão à espreita, sempre nos procuram em uma em alguma manhã ensolarada. Foi assim quando hoje abri os olhos e vi o sol que entrava por minha janela. Foi assim que “a verdade” me atingiu. Inóspita, traiçoeira e má. Não que eu não houvesse visto minha vida assim, não que meus conceitos filosóficos não tenham se esbarrado em minhas próprias verdades. Mas hoje o mundo parou de girar por um pequeno instante, hoje meu mundo trovejou em um céu de brigadeiro.

Não foram reflexões sobre o que vivi, mas uma epifania de um “e se” interminável...

E se, ao invés de conter-me eu tivesse me arriscado mais, se eu tivesse pulado mais, gritado mais alto, corrido atrás. Se eu tivesse errado mais. Se eu não tivesse desistido no meio do caminho. Onde minhas pernas me teriam levado, onde minhas mãos tocariam. O que meus olhos veriam?

Na noite anterior eu vi a cor dos olhos de minha esposa. Bem próximos ao meu... Eu estava lá, lá dentro de seus olhos, eu estava lá. Não, não era uma imagem refletida, era uma presença física. Eu me vi em outra vida, eu me vi pelos olhos de outra pessoa. Eu estava naquele castanho cinzento, eu estava vivo! Lá eu vivia... Uma vida que não vejo de minha janela. Uma vida que não vejo passar, que não tem cheiro ou cor... Minha mulher me refletiu enquanto vibrava. Não foi adrenalina, não foi físico, foi transcendental. Seus olhos estavam em mim e vi minha vida tão clara, que não pude saber como cheguei ali, como minhas alternativas me levaram aquele momento...

A possibilidade de mudar uma única palavra do tempo e reverter uma história estava desfeita... Se me dessem a chance, eu erraria tudo outra vez só para poder estar ali. Ali eu não era a metade de laranja alguma, ali eu não completava outro ser, ali eu não era nada de importante, ali eu era eu, simples, em meu mais puro estado. Eu, o pai, o esposo, o filho, o irmão, o tio... Tantas funções se escancaravam ali... Eu não estava mais morto eu não estava mais vencido. Apesar de os problemas não terem desaparecido, apesar das contas ainda chegarem e o cuidar de vidas dependerem de mim, eu fui restaurado naqueles olhos.

Como disse, uma verdade cruel se apoderou de mim. Eu estou completo, e em minha vida não falta nada que não possas ser descartável, que não fosse ilusão ou fútil.

Todo amor que meu ser dispensa volta para mim em dobro, todo cuidada que ofereço, se torna o cuidar de minha própria alma. Fico mais forte quando amo outros e esqueço-me de mim, estou mais feliz no sorriso dos meus filhos. Sou um homem mais belo e mais digno nos olhos de minha esposa.

Quando revelações nos atingem inesperadamente, quando a vida começa a fazer sentido de um angulo diferente, deixamos os “e se” de lado, deixamos para depois o lamentar... A nossa vida esta nos olhos dos outros, não em seus preconceitos ou em sua moralidade muitas vezes pervertidas. Está no que o mundo muitas vezes vê em você e não percebe.

Apenas um conselho para vender, apenas um. Olhe bem fundo nos olhos de quem te ama e encontre a si mesmo.