ANTERO DE QUENTAL

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Nem Admirador Nem Respeitador

 

Por volta de 1865, havia em Coimbra (Portugal) um grupo de estudantes - os futuros realistas - interessados em discutir a possibilidade de modernização da cultura portuguesa. Encabeçavam o grupo Antero de Quental e Eça de Queirós.

Em Lisboa, um grupo conservador liderado pelo poeta romântico Antônio Feliciano de Castilho, não dispensava críticas aos jovens de Coimbra. Castilho, na advertência colocada ao final do livro (posfácio) Poema da Mocidade de seu discípulo Teófilo Braga, fez uma pequena referência ao grupo de Quental, criticando-lhes a "falta de bom senso e de bom gosto".

O poeta Antero, citado nominalmente, prontamente escreveu um violento e debochado opúsculo (folheto) chamado Bom Senso e Bom Gosto, tratando o poeta romântico como causa do atraso português. Essa carta suscitou polêmicas acirradas. Os ânimos se exaltaram a tal ponto que, Antero de Quental e Ramalho Ortigão se enfrentaram num duelo em que esse último saiu ligeiramente ferido.

Leia a seguir, o trecho final da carta pública de Antero de Quental dirigida ao romântico Antônio de Castilho:

"Paro aqui, Exmo. Sr. Muito tinha eu que dizer: mas temo no ardor de discursos, faltar ao respeito a V. Exa., aos seus cabelos brancos. Cuido mesmo que já me escapou uma ou outra frase não reverente e tão lisonjeira como eu desejava. [...] Levanto-me quando os cabelos brancos de V. Exa. passam diante de mim. Mas o travesso cérebro que está debaixo e as garridas e pequeninas coisas que saem dele confesso não me merecem nem admiração, nem respeito, nem ainda estima. A futilidade num velho desgosta-me tanto como a gravidade numa criança. V. Exa. precisa menos cinquenta anos de idade, ou então mais cinquenta de reflexão.

É por esses motivos todos que lamento do fundo da alma não me poder confessar, como desejava, de V. Exa.

Nem admirador nem respeitador.

Antero de Quental

Coimbra, dois de novembro de 1865."

Dizem os entendidos que desta frase de Antero: "A futilidade num velho desgosta-me tanto como a gravidade numa criança", saiu o conhecido ditado: "Não há coisa pior do que velho assanhado e criança precoce". ®Sérgio.

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Fonte: Antero de Quental. Poesia e Prosa. SP, Cultrix, 1974. p. 129.

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