LUIZ GONZAGA: O PRIMEIRO PREFEITO DE GOIANÉSIA

Quando chegou ao distrito de Goianésia em 1948, Luiz Gonzaga Sobrinho talvez não imaginasse que iria entrar para a história do local como o seu primeiro prefeito. De hábitos simples e personalidade calma, esse paraibano de Esperança, onde nasceu em 25 de agosto de 1918, trouxe para o então distrito de Goianésia a esposa Mariana Parreira Gonzaga e três filhos: Iolanda, Ivo e Hélio. Vindo de Ouro Verde (GO), Luiz Gonzaga teve na cidade mais seis filhos (Julieta, Divino, Carlos, Maria das Graças, Antônio e Maria de Fátima) montou algumas lojas, foi nomeado o primeiro prefeito e ainda de quebra, foi eleito o vereador mais bem votado e presidente da Câmara Municipal.

Militante do PSD, partido do Governador Pedro Ludovico Teixeira, Luiz Gonzaga ficou pouco tempo na cadeira mais cobiçada de Goianésia: de 1º de janeiro a 1º de julho de 1954, antes do prazo previsto para a eleição do novo prefeito. Ele foi destituído do cargo pelo Governador por ter participado de uma reunião política do partido oposicionista, a UDN, na casa de Laurentino Martins, de quem era muito amigo. A notícia chegou ao conhecimento de Pedro Ludovico, que o exonerou, colocando em seu lugar Marcelino Vicente Batista, que ficou no cargo de 2 de julho de 1954 a 31 de janeiro de 1955. Luiz Gonzaga, insatisfeito, trocou o PSD pela UDN, e concorreu ao primeiro pleito para a Câmara Municipal. Foi eleito o mais votado vereador, e de quebra, ainda sagrou-se o primeiro presidente da Casa. No curto espaço de tempo que comandou os destinos da então pequena Goianésia, Luiz Gonzaga foi o responsável pela contratação do primeiro quadro de funcionários e do maquinário inicial. A simplicidade desse nordestino pode ser confirmada no contrato número 1 da prefeitura, o de Inácio Pereira de Lucena, apelidado de Mandioca Braba. Profissão: coveiro.

Era do comércio que Luiz Gonzaga tirava o sustento da sua numerosa família de onze pessoas. O seu primeiro empreendimento foi o Armazém Boca da Mata, na Rua 22, esquina com a Av. Goiás. Vendia de tudo, desde feijão até parafusos. Além dessa loja, ele montou ainda uma sorveteria e outro armazém, o Castelo, também na Rua 22.

Apesar de não ter concluído nem a 4ª série do Ensino Fundamental, o primeiro prefeito de Goianésia era muito exigente com os filhos, principalmente com relação aos estudos. O seu sonho era que todos se formassem. Por falar em filhos, Luiz Gonzaga sempre foi um ótimo pai, atencioso e brincalhão. Gostava de reunir a prole para contar causos e fazer charadas, que eles nunca acertavam. A história do gato preto sempre tinha que ser repetida. Nem o pai cansava de contar nem os filhos de ouvi-la.

Os hábitos do primeiro prefeito do município eram bastante pacatos. Não dispensava uma rapa de arroz e um cafezinho. E claro, fazia de tudo pelo seu sagrado doce de laranja, que ele chamava de “Tanto Haja”. O nome já explica tudo. De vício mesmo apenas o cigarro de palha, que ele fazia questão de preparar. E por causa de um problema respiratório andava sempre com um vidro de Vick no bolso, para cheirar e amenizar a enfermidade. Beber, só uns aperitivos de vez em quando. Agora, sua grande paixão era a música do seu ídolo Luiz Gonzaga, o Rei do Baião. Ele chegava inclusive a se vestir igual ao mestre, e apesar de não saber tocar nenhum instrumento, gostava de dizer que era o próprio Gonzagão. Gostava tanto de baião, xote e forró, que não perdia uma festa. E como a esposa, Dona Mariana, não era muito chegada na dança, sua parceira era a filha primogênita, Iolanda, que fazia com o pai um dos pares mais animados da época. Luiz Gonzaga era tão apaixonado pela música que ficava o tempo todo batucando caixinha de fósforo e assoviando, hábitos que passou para os filhos.

Luiz Gonzaga não foi pioneiro apenas na política. Foi ele também que trouxe para Goianésia o primeiro aparelho de som. Era com esse equipamento que ao lado de Florisvaldo Europeu, exercia a função de locutor do programa A Voz dos Bandeirantes, que ia ao ar, através de um alto falante colocado num poste na Av. Goiás, perto da Rua 18. Anunciavam notas, convites, recados amorosos e, claro, passavam músicas. Às 22 horas, a rádio era desligada, juntamente com toda a energia da cidade, à base de um gerador. Depois que A Voz dos Bandeirantes saía do ar a cidade dormia.

Vicentino, Luiz Gonzaga ajudou na construção na Igreja Nossa Senhora da Abadia. Junto com os irmãos vicentinos, ele ajudava em várias causas sociais. Participava de todas as barraquinhas e não se negava a atuar como festeiro em novenas, e inclusive, era o leiloeiro oficial das festas.

A esposa Mariana, ele conheceu em Minas Gerais, onde morava na época de rapaz. Foi na Fazenda São Manoel, onde trabalhava para o futuro sogro na lavoura, que Luiz Gonzaga acabou encontrando o amor da sua vida, Mariana. Bateu os olhos na moça, depois de algumas conversas, estavam casados. Os dois tinham 27 anos na época. Pouco tempo depois, o sogro resolveu transferir-se para a goiana Ouro Verde. Luiz Gonzaga e dona Mariana foram juntos. Lá, ele se dedicou ao comércio. Três anos depois, desembarcava em Goianésia, onde entrou definitivamente para a história do município.

Luiz Gonzaga sempre teve uma saúde de ferro. A primeira vez que esteve num hospital foi para uma cirurgia de apendicite. Da segunda vez, ele não retornou. Faleceu, em 2 de agosto de 1967, vítima de leucemia, três dias depois de diagnosticada, a três semanas de completar 50 anos de idade. Para a história, Luiz Gonzaga passa como o primeiro prefeito e presidente da Câmara. Mas para a companheira, Mariana, filhos e pessoas próximas, ele será sempre o alegre contador de causos, mestre das charadas e o dançarino de forró. Um homem que imprimiu à sua vida o ritmo da simplicidade, traduzido nas batucadas de uma caixinha de fósforo.

Anderson Alcântara
Enviado por Anderson Alcântara em 21/08/2009
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