VINÍCUS DE MORAES
A ponte entre a poesia e a MPB
 
   Quem conhece os versos de Vinícius de Moraes, mas não muito da sua biografia, pode acreditar que tratava-se de um diplomata que ficou famoso como poeta e depois como compositor. Pois, de fato, na vida do poeta carioca, nascido em 19 de outubro de 1913, as coisas ocorreram na ordem inversa. Já em 1928, com apenas 15 anos de idade, Vinícius assinou duas composições, em parceria com os irmãos Haroldo e Paulo Tapajós, que foram gravadas em disco em 1932, um ano antes de sua estréia em livro, com a publicação de “O caminho para a distância”.
   Portanto, o poeta que melhor fez a ponte entre a literatura e a música popular brasileira iniciou sua trajetória como compositor. Formou-se em Letras, em 1929, e em Direito, em 1933. Foi crítico literário e editor de revistas, trabalhou para a BBC de Londres, quando estudou em Oxford nos anos 30. Somente em 1943 entrou, por concurso, para a carreira diplomática.
   Vinícius, aliás, era um homem de múltiplos talentos, que se notabilizou por aquele mais marcante, o de fazer poesia. Flertou com várias artes. Fez cinema em fins da década de 40, com Orson Welles. Chegou a se aventurar como cantor. Passeou com sucesso pelo teatro, especialmente com o musical “Orfeu da Conceição”, um marco no teatro brasileiro, que estreou em 1956, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, inaugurando a parceria de Vinícius com outro mestre, Tom Jobim. “Orfeu da Conceição” foi logo transposto para o cinema, no filme francês “Orfeu Negro”, ganhador da Palma de Ouro em Cannes e do Oscar de Filme Estrangeiro em 1959.
   Ao lado de Tom Jobim, fez a canção brasileira mais executada em todo o mundo: “Garota de Ipanema” (que recebeu uma versão em inglês, cantada por gente como Frank Sinatra, decepcionante diante do poema original de Vinícius). O “Poetinha” também fez poemas que se tornaram letras de música para crianças, no livro “Arca de Noé”, publicado em 1970, e viraram discos e especiais de TV.
   Vinícius era “uma força criadora sem precedentes em nossa literatura”, como definiu Manuel Bandeira em 1940. Porém, alguns de seus livros que se tornaram clássicos do Modernismo, estudados e citados à exaustão, chegaram a público de forma modesta. “Poemas, sonetos e baladas” (1946) teve edição de 372 exemplares e “Pátria Minha” (1949) foi lançado em apenas 50 exemplares, produzidos por João Cabral de Mello Neto em sua prensa artesanal.
   O sempre apaixonado Vinícius de Moraes, como ele mesmo confessava, era movido à energia de novos amores e amigos. Foi casado diversas vezes, e também teve inúmeros parceiros musicais. Como compositor, ao contrário do que se imagina, Vinícius muitas vezes fazia a música. Compôs sozinho várias vezes, mas foi com parceiros como Tom Jobim, Edu Lobo, Baden Powell, Toquinho e Carlos Lyra, apenas para citar os mais frequentes, que fez muitas canções reconhecidas mundialmente.
   Quando foi exonerado do Itamaraty, em 1969, durante a Ditadura, ele já era um ícone popular, sucesso mundial como poeta e compositor. Sua morte, em 9 de julho de 1980, causou uma verdadeira comoção nacional.

(Parte da coletânea HISTÓRIAS DE POETAS, de William Mendonça. Direitos reservados.)