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Perfil

Eu sou poeta e a linguagem é o meu desafio. Eu sou tímido, mas também, exibido. Eu sou inseguro, mas sei o que não quero. Eu sou contido, mas não sou nenhum santo. Meu nome é Riccell e a pele em que habito fala muito, mas não diz tudo sobre mim. Daí, a certeza de que eu sou mais do que o aparente pode traduzir ou (a)trair em mim. Então, fica óbvio que eu sou muito mais do que um nome que se impregna sobre um pedaço de papel. Eu tenho 39 anos, mas ainda sou um menino bobão. Eu não tenho a pretensão de ser perfeito, eu jamais aceitaria ser tão chato assim. É tão gostoso quando me pego apaixonado, mesmo tendo vivido a maioria das minhas paixões em silêncio, contido, sozinho comigo mesmo. Os dias chuvosos e frios são os mais lindos para mim e eu adoro sentir chuvisquinhos contra o meu rosto imberbe enquanto ando na noite túrbida voltando pra casa. Detesto estar sem rumo, mas, volta e meia me surpreendo perdido. Odeio rótulos totalizantes. Tenho um caso de amor com a Espanha. A Itália se impregnou em mim e traduz-se no profundo de minha alma irrequieta. A França tenta os meus desejos e a minha língua. A América Boreal me faz querer ousar, a Austral já me fez ousado. Eu mastigo cravo de vez em quando; é um excelente antisséptico bucal. Eu acredito que o amor simplesmente acontece e nada me convencerá de que amar não vale à pena. Não sei se o termo correto seria defeito, talvez excesso de qualidade e, eu estou cheio desses excessos. Quem ousaria dizer que eu não tenho o direito de ser dúbio? A alba é o amanhecer desnudando-se de escuridão e vestindo-se de um luminoso poema chamado dia. A alba trouxe um pouco mais luz para o grande acontecimento que é a minha existência. Adoro navegar pelo mundo das línguas, das literaturas e das culturas, sou um tanto quanto, incuravelmente, antropofágico. Eu sempre falo sozinho, seja onde for, e acho que esse é um dos meus muitos traços de loucura. Não cultivo ciúmes, ciúmes me machucam e, depois, tenho vivido para aprender que as pessoas não são minha propriedade e que jamais tenho controle real sobre os outros. Os meus amores são como um passarinho que canta belo e livre sobre a palma da minha mão. A beleza do passarinho, para mim, é tão irresistível quanto a sua inalienável liberdade. É bem melhor ‘ser’ na vida de alguém do que 'ter’ alguém; dói menos quando a partida é inevitável. Aprender deixar meus amores partirem é um exercício de dignidade e de respeito profundo por mim mesmo. É por isso que eu amo como quem ama a esse passarinho à palma dã mão irrestritamente aberta. E, é óbvio que a dor da partida é o inevitável de quando se ama em liberdade; revolucionando-se. Sabe, eu admiro as rosas mas gosto mais dos jasmins. Acho que porque eu escrevi o nome do meu primeiro amor sobre a pétala de uma flor de jasmineiro a qual guardo até hoje entre os meus poemas amarelados que resistem ao tempo entulhados no fundo de caixas velhas. 1997 foi o ano da minha vida; foi quando eu descobrir o amor com todas as suas dores e delícias! Eu já senti inveja e, ai, como doeu me perceber tão mesquinho, tão medíocre, tão covarde. Eu sou um ente politizado e acredito que um espírito crítico e dialógico nos leve a uma maior e melhor humanização de nossas práticas. Eu acredito que o amor é o ‘perigosamente humano’ na vida da gente. Eu não tenho tempo para ser único, a diversidade me ressignifica a todo o momento; eu sou, incuravelmente, filho da diferença. Eu não sou cristão; tendo a não acreditar em Deus, mas, perdoar faz parte de minha essência quotidiana. Eu não me faço vítima de meus problemas, mas, eu não esqueço do quanto as minhas dores, feridas, medos, conflitos e decepções me fragilizam. Tudo em mim é pequenino, gigante mesmo é a minha esperança. Eu vejo espíritos, alguns são maus, outros são anjos. Os meus amores têm sempre um espaço especial em minha alma. Jamais os esqueço. Hoje eu não anulo e nem queimo as minhas memórias; há muito tempo deixei de queimar as minhas rídiculas cartas de amor. As minhas memórias são as minhas memórias e são elas que me fazem lembrar de quem sou; ou quase isso! Que o céu azulado enrique os sonhos que trago no peito e não me deixem perdidos os outeiros da solidão. Estou certo de que preciso acreditar mais em mim e em minha grandeza de espírito. Eu hei de descobrir minhas grandezas nas coisas mais singelas e que tão poucas pessoas valorizam. Eu tenho muitos medos, mas sei que, de fato, a única coisa possível, real, concreta, plausível é o presente. Eu estou apenas em um lugar: no aqui e agora. O futuro é uma ficção de nossos desejos. O passado? Quiçá uma vidraça embaçada de nossa memória histórica. O tempo é um deus que me amedronta e fascina. Eu, definitivamente, não sou lindo, mas ainda sorrio de contentamento me olhando ao espelho. Acho que a sorte zomba de mim, mas, às vezes, eu dou língua pra ela. A literatura me fascina tanto quanto me lê! Cronos tem sido bem generoso comigo, só não sei até quando e, não me interessa mesmo sabê-lo. Eu amo os meus poucos amigos, mesmo quando estamos silenciados e distantes. Eu não sou malicioso, mas não se espante tanto com a minha desconfiança. Eu quase sempre fico sem graça em público, mas, também gargalho alto nos lugares mais impróváveis. Eu gosto de cozinhar e arrancar sorrisos das pessoas. A minha família é tão desastrada quanto essencial para mim. Eu sou esquisito quando ando desacompanhado. O vinho traduz a minha alma inquieta, faltante, desejante. Eu tenho um sorriso tímido-sarcástico-safado. Eu sou o que nem eu mesmo posso garantir em inteireza, mas o que importa? Tudo o que faço é tentar ser feliz. E, acho que não há nenhum pecado nisso mesmo.