Silêncio, tudo está em silêncio. Muitos carros, muitos gritos, está silencioso aqui. Passo pela porta e ouço o barulho silencioso das almas pedindo algo. Está silêncio aqui, nada de novo surpreende, nada é novo, tudo parece semelhante.
Está silêncio aqui, estou quase surda de tantas vozes caladas que ouço pelos poros do meu corpo. Meu corpo que silenciosamente pede, já não é mais meu corpo. Nunca foi. Minha alma veste roupas afinal.
A viagem é longa e barulhenta. Está silêncio aqui, as lembranças de outras pessoas se embaralham com as minhas lembranças, já não são outras, são todas uma só, uma só voz entonada de várias formas e tons carregados dos mais diversos sofrimentos.
Está silêncio aqui, as lágrimas escorrem do meu rosto, não entendo muito bem, porque elas descem como se tivessem fugindo de dentro de mim. Talvez seja eu, me escondendo de mim mesma ou das várias "eus" que tentam desesperadamente me dizer algo. Mas não tenho ouvidos para ouvi-las, os meus não conseguem alcançar o sonar de seus sussurros.
Como sinto falta de meus dedos que cantavam lindamente. Como sinto falta de meu vestido rosa, que ganhara de minha mãe, era lindo, leve e caído. Como sinto saudade de algo que nunca tive? Já não sei se sou eu quem escreve, ou, o eu do presente quem escreve. Talvez o eu do presente esteja se mesclando com o resto de mim, que de fato nunca saiu de mim.
Tagarelo no silêncio de meus pensamentos. São tantos questionamentos que uma lauda se torna um pedaço de guardanapo, onde mal cabe meu nome completo, pois jamais caberia já que meu nome não acabará tão cedo. São tantos nomes. Estou tão longe do fim. Acho que nem no meio estou. Tenho tanto a aprender. Tenho tantas lágrimas para chorar, que se este papel fosse papel, de verdade, ficaria borrado de lamúrias.
Freya Sá.