ANTIDIÁRIOS DE JUNHO XXVI

Eis aqui um testamento inócuo — sem herdeiro ou espólio;

não espere dele nada de concreto e nem ouro e nem dólar.

O que temos de pôr na mesa nunca interessou aos homens:

repetidos não poemas de muitos versos repletos de ontens.

Quantos já fomos dentro de nós mesmos? E os mil horizontes

de um ser novo para cada novo pensamento? Cai oca a noite

e tudo se modifica no motor do tempo ao redor da fornalha de seus movimentos. Somos inéditos e inúmeros neste teatro

sem ensaios marcados — e sem cachê ou elenco preparado —

e me escoro na coxia do intervalo e de toda a sua luz apagada.

Ninguém deseja esta nuvem elétrica e o seu chumbo pesado.

Peça aquela cerveja gelada. Relaxa. E acenda o meu cigarro.