ANTIDIÁRIOS DE JUNHO XXIII

O meu verso frequenta o instante do que já é passado;

jamais entenderá a morte seca deste presente deletado

e desconhece: será que estamos há muito no lugar errado?

Ele é um terço, uma novena vitalícia rezada ao contrário

ou, quem sabe, não seja nada além de um amplo nada

de fato. A poesia não prometeu comida e roupa lavada.

O tempo das horas se transforma em inúmeros atalhos,

a fim de que eu possa reencontrar o meu próprio rastro

e desenhá-lo nesta imagem oculta que caiba, não exata,

no raso do poema que vaza na primeira brisa que passa.

O beijo do poeta mora no refrigério veloz daquela rajada

— no bucho atado e preso no nó cego que nunca desata.