ANTIDIÁRIOS DE JUNHO XX

Estendo sobre o varal farpado do vento, sob a noite estanho

e molhada, uns dos meus versos confusos e momentâneos

que, mesmo pesados, decolam leves e sobrevoam este agora

dos poros que se molham na ânsia instável de como devoram

— além da paz — a alma tremida: esta dor fluída, e contida,

que esquenta e esfria por entre as vielas roxas das vísceras.

Vejo a inércia das horas e os ponteiros que somem do relógio

anti-horário que não presta mais, pois já rompeu sua órbita.

No caixão mole da cama sofro espasmos no hall da espinha

e no susto eu sinto aquele nó invisível e veloz de uma asfixia

que vem e mora. Corta e voa. Volta e sangra. Vai, mas fica.

O poema não anuncia a quase meia-noite que se aproxima.