ANTIDIÁRIOS DE JUNHO II

II

Os meus versos vêm quase sempre da foto da janela aberta

— e de lá do mesmo barraco do morro e da sua luz amarela

que tinge as dobradiças da manhã num bege feito aquarela.

Pressinto aquela amargura vinda da ânsia de futuros inertes

ao preferir o pó da traça que habita nos meus livros velhos.

Encosto na claridade bronze do raio e de uma ventania fria

das dez e quinze, quando o sol de outono é amplo e ilumina

a gelosia banguela do dia; e expõe a sua madeira apodrecida.

Assisto à cena da viúva que vê o vídeo do falecido em 8mm…

E é assim que testemunho as horas e seus mil comprimidos

dos junhos que guardo na mão suada no meio da pandemia

— onde o poema se agarra nos desvãos escuros desta asfixia.