(Texto em versão declamada)
Ao longe
Abro a janela.
Por pouco
mas ainda a noite,
o fim do serão,
ou talvez,
os olhos já fechados,
a minha cegueira
ou um véu
de penumbra
de não querer mais
a luz do dia.
Esse
até que poderia
ser tão feminino
como é a manhã.
No fundo,
não importa;
é indiferente
como as nuvens
que correm, frívolas
ao longo do horizonte
e tão casualmente
que parecem brincar
na imensa amplitude
daquele faz de conta
de carrossel,
ao longe,
e mais que longe
a revolver-se
o contrapeso da fúria
em campos lavrados
pelas garras
das mãos crispadas
do camponês.
Além, na lonjura
a perfilarem-se
as cercaduras
mais lógicas
que ecológicas,
facetadas e
talhadas do pinho
como que por
tesoura de manicura.
Bem ao longe
muito, muito longe,
na clausura bonitinha
dos canteiros do jardim
as flores frescas
e disciplinadas
a entreterem-se
denunciando as ervas
daninhas e embirrantes
às autoridades.
Ao longe,
mesmo a roçar
o meu horizonte,
fecho os olhos
de todo
no fim da noite
adormeço com ela
e ouço a manhã
espreguiçar-se.
_________________LuMe