Imagem: Arte Mara Pontes
PÓ E SÓ
Marlene Constantino
Foi um mal tempo,
daquele em que tudo fica revirado.
Um arrastão sem tamanho
daquele que leva a alma da gente.
Perdi o rumo, o prumo.
Já não sei quem sou.
Onde estou, pra onde vou não sei.
Incerto, rasgado sofro...
Choro o meu sangue...
Oro os meus pedaços...
Sinto a lágrima como lava queimar
meus poros, meus lábios num eterno silêncio.
Vago. Procuro os meus, os teus passos...
Inútil!
Quem disse que vemos pegadas
em areias movediças?
Mas pra que contar os grãos
se um dia o vento os levará sem dó nem piedade,
soterrando a alma da gente?
Aqui dentro, hoje vejo pó e só!
Atordoado,
Já nem sei se sobrevivi ao caos,
ou se morri mais uma vez!
****
(Fiz este poema frente à dor, quando do
Tsunami no Japão)