Meu coração amanheceu cansado
Taciturno, cambaleando pelas vagas lembranças
Procurando algo perdido, entre o todo de uma vida
A saudade é um peso que temos que levar sobre a cabeça
Olho na imensidão e tudo o que vejo me faz resvalar
Feito água, escorre o meu eu pelas encostas do remorso
A gravidade acontece no intangível do nosso imaginário
E as lembranças passam tão rápido deixando a dor da perda
Olho uma moça na janela, ela sorri para mim
Ouço a voz da primeira namoradinha, sinto flores, jasmim
Me acende o ouro sobre os ombros daqueles olhos azuis
Entenebreço o meu coração na injuria de desvalida paixão
Ai! Ouço o grito do meu coração vazio
Ecoando pelo tempo enquanto caio nas mãos ásperas da dor
Cérceo, de tantos amores, atado a muçurana, corre-me as lágrimas
Tantos amores, tanto quanto caminhos andados, e um coração vazio
Ah! Aqueles olhos fitos, sombrios, aparrados, me foram por sombra
Ah! Aquelas mãos macias acariciando-me, já se foram sem olhar atrás
Ah! Aquela força, juventude impetuosa, vendo e fazendo sem medo
Ah, Meu Deus!
Cada amor tem seu prazer e, cada prazer carrega sua própria dor
Cada dor tem sua estirpe e, eu quase nada tenho do que se foi
A dor maior não ter tido e perdido, nem é causada pela insatisfação
De não ter tido, mas é angústia de não saber mais do seu grande amor.