Por que como menestrel roubaste meu coração, Se depois de vê-lo perdido de amores por ti deixaste-o? Para que entoaste teus cantos para minha alma gentil, Se depois, ao ver-me bailando, foste embora de mim? Por que te tornaste o sol de cada um dos meus dias, E resolveste esconder-te entre nuvens plúmbeas? Para que te fizeste lua para iluminar minhas noites insones, Tornando-te desde então minguante por todas as minhas fases? Acaso não havia outro coração que pudesses sequestrar, Tão repleto de melodias e rimas em que te derramas? Por que entre tantas, pousaste teu olhar sobre mim ao acaso, E capturaste não só meu coração, mas também a minha alma? Acaso sabes o que é a agonia de viver sem a própria companhia, Esperando resgatar-me muito aquém do teu querer devolver-me? Agiste tal qual um louco e me contaminaste com tuas insanidades. Louco foste ao inocular-me amores e por eles condenar-me a desejos, Ao condicionar-me à espera ainda mais vã que tua escolha infiel.
Eis-me aguardando que tuas andanças cheguem e me libertem de ti, Devolvendo-me a alma e o coração atados aos teus passos.