Fiz da dor algo tão atroz
Que a transformei em algo distante
Do passado ou futuro
Mas nunca deste instante
Eu a fiz encolhida, emparedada, feroz.
Eu a fiz doída
Eu a fiz como o grito vindo das ruas
Rompendo barreiras, engolindo o asfalto.
Explodindo em becos lamacentos
Nas esquinas suadas, nos teatros
Eclodindo no chão de cimento.
Fiz com os pés molhados pela chuva fina
No rugir da sussurrante tormenta
Com boca enfastiada pela forte neblina
E esta dor eu transformei
Que ela a mim, não aguenta
Dor doida que preenche meus espaços
Lepra negra em minha carne tão sofrida
Suja-me com tua dor mais dolorida
Venha a mim embalar-me-ei nos teus braços