Pejo
Estou presa por demais à humanidade
E vaga o meu olhar pela cidade
Pelas calçadas, pelas esquinas marcadas
Dos sofrimentos que exalam
Sou pranto que fica mudo
Que espanta o verso enfeitado
Que vê o pedinte jogado
No frio que me gela as cobertas
Sou navalha cortando as arestas
Das roupas das empregadas
Das mãos todas recortadas
De tanto trabalho sem troco
Meu vôo fica pequeno
Os céus me jogam de volta
Quando vejo essas favelas
E o mundo que lhes revolta
Ah me perdoe !
Esta que escolheste por parceira
Vai te arrancar de vôos lindos
E trazer cheiro de lixo
Não posso deixar de ver isso
Quando o belo me atordoa
E neste canto, sinto que fico devendo;
O encanto me descorçoa
São gente, essas pelas ruas
Almas minhas e são tuas
E andam tão desvalidas...
Nem sei por onde começo
Se sigo ou se só tropeço
Nesse ensaio de tantas vidas.