Digo-te adeus

Digo-te, na derradeira hora:

Adeus.

Devo seguir ao novo

Buscar passos por muito sepultos

Caminhos não vividos

Medos, por medo escondidos

Tropeços por tanto evitados

Vida em vida.

Desconheço a senda à espera

Sequer sei – angústia – se calo ou exalto.

Não há, contudo, de silenciar-me a dúvida

Antes o erro vivido

Que a perpétua inércia do nada.

Não hei de julgar-te, tampouco

Dizer se mereces riso ou pranto

Saudade, dó ou castigo

Pois tu, como o mundo,

Hidra de mil faces

Em uma és tantas

Ódio, amor, verdade, mentira...

Doce metade, mas minha algoz.

Falhei, também, reconheço.

Errei, erraste, erramos,

Deixai, porém, as faltas em seu sepulcro

Sem mágoa a embotar o peito

Fique a lembrança de felizes instantes.

Foi-se o amor sem parada

Acabou-se nosso momento

Sentenciou o destino

(sem apelo).

Siga também, liberta

Cavalgue o tempo

Reveja juízos

Desate nós

Repense rumos.

Que o leito órfão

Não sinta minha ausência

Nem a despedida

Pegue-nos em pranto.

Que a hora do amanhã

Não viva em função do ontem

Que a memória não seja a vida.

Adeus.

Chama-me o mundo.