Tenho medo do seu medo.
Medo de viver pela metade uma vida inteiramente minha
De mudar meus valores até perdê-los
De chegar cedo a um encontro que nunca foi marcado.
Medo de perder aquilo que nunca tive
De sentir saudade daquilo que nunca se foi
De conviver a presença daquilo que nunca esteve aqui.
Tenho medo do seu medo.
Medo de viver a realidade seguinte
De ver renascer aquilo que não foi fecundo
De matar aquilo que não morre.
Medo de acreditar em minhas fantasias
De escorrer pelas mãos o excesso que me pertencia
De abandonar para ser abandonado.
Tenho medo do seu medo.
Medo de cobrir com cinza as cores que inventei
De engolir como frio
aquilo que descerá queimando minha garganta
De tomar como findo, aquilo que permanece vivo.
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