ESPADA DE DOIS GUMES

Essa expressão, que significa espada de dois fios, ou seja, afiada dos dois lados, conforme as Escrituras, é a palavra do Senhor, que "é viva e eficaz e mais penetrante do que espada alguma de dois gumes, e penetra até a divisão da alma e do espírito, e das juntas e medulas e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração." Hb. 4:12.

Observemos que a Escritura diz que a palavra de Deus é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração. Ou seja, ela entende o que vai no coração das pessoas. Assim como os homens entendem os problemas psíquicos que ocorrem nas pessoas, usando a psicologia, também a palavra de Deus conhece as intenções do coração do homem. Ela também é apta para separar a alma do espírito, ou seja, pode matar. Pois isso é o que ocorre quando há a separação entre eles: o fôlego de vida, o espírito; e a alma, o ser total. Não é sem razão que falou o Senhor: "Eu mato, e eu faço viver; eu firo, e eu saro; e ninguém há que escape da minha mão." Dt. 32:39, segunda parte.

A espada aqui é usada como um símbolo. Ela é uma arma que tanto serve para atacar o inimigo, como serve para defesa contra os seus ataques. Haja vista que com ela Jesus resistiu aos assédios de Satanás, quando este pretendeu subjuga-lo com argumentos bíblicos. E nisso reside um perigo. Pois, como Satanás é mais sábio que Daniel, e segredo algum se pode ocultar dele, caso não conheçamos e manejemos bem a palavra de Deus, corremos o risco de ser feridos e até mortos com a arma que empunhamos ou com a qual nos cingimos e armamos. Ez. 28:3 e II Tm. 2:15.

Disse Jesus: "As palavras que eu vos digo são Espírito e Vida." Jo. 6:63. Nada obstante, essa palavra também mata. Ela edifica, mas também destrói. Pois Ele disse por Isaías que "com fogo e com a sua espada Ele entrará em juízo com toda a carne; e os mortos do Senhor serão multiplicados." Is. 66:16. E esse fogo tem origem na sua repreensão, veja:

"Porque, eis que o Senhor virá em fogo; e os seus carros como um torvelinho, para tornar a sua ira em furor, e a sua repreensão em chamas de fogo." Is. 66:15. E isso porque de há muito Ele já havia dito: "convertei-vos pela minha repreensão: eis que abundantemente derramarei sobre vós o meu Espírito e vos farei saber as minhas palavras." Pv. 1:23.

Disse o apóstolo Paulo: "E graças a Deus, que sempre nos faz triunfar em Cristo, e por meio de nós manifesta em todo o lugar o cheiro do seu conhecimento. Porque para Deus somos o bom cheiro de Cristo, nos que se salvam e nos que se perdem. Para estes certamente cheiro de morte para morte; mas para aqueles cheiro de vida para vida. E para estas coisas quem é idôneo? Porque nós não somos, como muitos, falsificadores da palavra de Deus, antes falamos de Cristo com sinceridade, como de Deus na presença de Deus." II Co. 2:14-17. E esse cheiro do seu conhecimento nada mais é do que a publicação dos mandamentos do Senhor, que Paulo sempre enfatiza em suas epístolas.

Há quem diga que a voz de Deus é sempre suave. Mas essa suavidade, qual perfume, é para os que se salvam. Mas para os que se perdem, cheiro de morte. Pois diz a revelação dada a João: "E os demais foram mortos com a espada que saía da boca do que estava assentado sobre o cavalo, e todas as aves se fartaram das suas carnes." Ap. 19:21.

João, por ordem do Senhor, escreveu a igreja de Pérgamo:

"Arrepende-te, pois, quando não em breve virei a ti, e contra eles batalharei com a espada da minha boca." Ap. 2:16.

Outrossim, foi mostrado a João o que segue: "E vi o céu aberto, e eis um cavalo branco; e o que estava assentado sobre ele chama-se Fiel e Verdadeiro; e julga e peleja com justiça. E os seus olhos eram como chama de fogo; e sobre a sua cabeça havia muitos diademas; e tinha um nome escrito, que ninguém sabia senão ele mesmo. E estava vestido de uma veste salpicada de sangue; e o nome pelo qual se chame é a Palavra de Deus. E seguiam-no os exércitos no céu em cavalos brancos, e vestidos de linho fino, branco e puro. E da sua boca saía uma aguda espada, para ferir com ela as nações; e ele as regerá com vara de ferro; e ele mesmo é o que pisa o lagar do vinho do furor e da ira do Deus Todo-Poderoso." Ap. 19:11-15.

Alguns, à semelhança de Satanás, têm usado a palavra de Deus em proveito próprio e para reivindicar aquilo que desejam ou pretendem, alegando para isso as promessas feitas por Deus nas Escrituras, que são a revelação dele para os homens. A esses chama o apóstolo Paulo de falsificadores da palavra de Deus.

Não devemos ignorar que a Palavra de Deus, que O representa e que é como ele próprio, é rocha de firmeza para uns, mas rocha de escândalo para outros; pedra angular ou principal para uns, mas pedra de tropeço para outros; para o que também foram destinados. I Pe. 2:7 e 8.

Assim, o poder da vida e da morte está na palavra, e não há como fugir desse princípio.

Os homens que estudam para advogarem as causas de outrem, têm se especializado em buscar brechas na lei para favorecerem aqueles que lhes remuneram o trabalho, mesmo que seus clientes sejam manifestos transgressores da lei.

É comum se ver advogados defendendo com eloquência criminosos e delinquentes, porque foram contratados para isso. Colocam o dinheiro em primeiro lugar, bem como os seus interesses e daqueles que lhes pagam, e por último a justiça e o direito legal, baseados num princípio de honestidade, fidelidade e temor a Deus, diante do qual todos haverão de comparecer para prestar contas. Não é sem razão que diz uma escritura: "(…) "seus juizes serão lançados duma penha." (…) "porque o juiz se apressa à recompensa, e o grande fala da corrupção da sua alma, e assim todos eles são perturbadores." Sl. 141:6 e Mq. 7:3. E: "Os seus príncipes são leões rugidores no meio dela (da cidade); seus juizes são lobos da noite, que não deixam os ossos para o outro dia." Sf. 3:3. Por isso fala mais o Senhor: Deixai-vos admoestar juízes da terra."

Nada obstante as autoridades serem de ordenação divina, elas devem julgar pelos juízos de Deus, exarados nas Sagradas Escrituras. Pois assim ele diz: "Por mim governam todos os juizes da terra." Pv. 8:16.

E adverte:

"Ai de vós, doutores da lei, que tirastes a chave da ciência; e vós mesmos não entrastes, e impedistes os que entravam." Lc. 11:52. "E ai dos que decretam leis injustas, e dos escrivães que escrevem perversidades, para prejudicarem os pobres em juízo, e para arrebatarem o direito dos aflitos do meu povo; para despojarem as viúvas e para roubarem os órfãos!" Is. 10:1-2.

Alguém já disse que faz lei quem pode e obedece quem tem juízo. E a justiça humana declara que a ninguém é defeso ignorar a lei. Mas Deus é justo. A Sua palavra diz que aquele que conhecia a vontade do seu Senhor e não fizer conforme ela receberá muitos açoites, enquanto que quem não sabia e pecar receberá poucos açoites.

A Palavra do Senhor não tem somente edificado a muitos, mas também destruído. Pois sobre ele profetizou Simeão: "Eis que este é posto para queda e elevação de muitos em Israel, e para sinal que é contraditado." Lc. 2:34.

A Palavra de Deus é como uma força energética: se corretamente utilizada, trará benefícios. Se mal utilizada pode destruir. Uma espada nas mãos de um exímio esgrimista lhe servirá de defesa, mas nas mãos de alguém não habilitado para manejá-la, pode até lhe ocasionar a morte.