A consciência me pesa
Pode interromper este contato aqui! Não vá até o fim se está em busca de amenidades, ou se assuntos indigestos não lhe caiam bem – seja lá por que motivo for. Respeito seu direito de resguardar-se da amarga realidade da vida.
Contudo, se você ultrapassou essa advertência e, mesmo assim, continua prestando atenção nesta divagação, talvez seja o caso de refletir um pouco mais – junto comigo.
É muito fácil – creia-me! – buscar várias abordagens sobre a existência que possam anestesiar os sentidos com relação a coisas bem mais importantes. Pode-se rir dos contratempos do dia a dia, pode-se mergulhar nas venturas e desventuras de uma paixão, pode-se filosofar sobre Deus, o universo e o ser humano, este ser tão complexo que consegue acumular várias vidas em si mesmo, com passados e presentes e futuros. Faço disso tudo um pouco, praticamente, todo santo dia. Se o resultado final é satisfatório, ou não, é irrelevante. O fato é que a mente e o espírito se ocupam com tudo isso e deixam de prestar atenção às mazelas que estão à volta de todos nós.
Hoje, particularmente, minha consciência me pesa. Não porque eu pense que nada disso que comentei fazer todo dia seja, em si, algo sem valor ou importância. De certa forma, tenho até um certo orgulho de me pôr a refletir sobre a vida, seja qual seja a abordagem. Não sinto culpa pelo que faço; sinto remorso pelo que não faço.
Este mundo em que vivemos está afundado – como sempre esteve – em crises e mais crises. Uma delas, em particular, vem mobilizando uma categoria diferenciada de pessoas, no caso, a casta dos ricos e poderosos. Geralmente, eles estão competindo entre si, buscando novas formas e meios de manter sua riqueza e seu poder. Contudo, algo aconteceu que fez com que eles, mesmo a contragosto, tivessem que se irmanar, a despeito de nada haver de nobre por trás disso.
Foi deflagrada, há poucos meses, uma crise financeira internacional que não poupou, direta ou indiretamente, nenhum ser humano neste planeta – apesar de alguns sequer terem noção disso; ao menos, por enquanto. Em curtíssimo espaço de tempo, os ricos e poderosos se mobilizaram e passaram destinar vultosas quantias – cifras impensáveis – para tentar salvar seus domínios e possessões.
Por outro lado, os recursos naturais do planeta estão sendo consumidos ou destruídos, mas quanto a isso, faz-se quase nada. Não falo de petróleo, falo de coisas bem mais elementares, como a água que bebemos e o ar que respiramos.
Ainda, há milhares de pessoas morrendo mundo afora, a cada minuto que passa, pelo motivo mais torpe possível que é inanição, porque não se lhe fazem chegar a banalidade de uma reles porção de alimento.
Também, a despeito de tanta evolução científica, a esmagadora maioria dos seres deste planeta não tem acesso a um mínimo de recursos que possam preservar ou restaurar sua saúde. Saneamento básico e tratamento médico são reservados à menor parte da população planetária e, mesmo assim, boa parte daqueles que têm acesso só conseguem algo muito precário.
Enfim, há gente morrendo e matando ou, simplesmente, incapaz de viver com um mínimo de dignidade. Essa lista de descasos do ser humano para com sua própria espécie é imensa. Não tenho pretensão de esgotá-la. Acho que nem poderia.
Aqui e agora, gostaria, sim, de poder propagar uma mensagem de fé e esperança. Ah! Quem me dera eu tivesse esse dom! Só que, independente do quão nobre sejam as intenções e as proposituras que se possa lançar, o mundo está precisando de resultados práticos e isso depende de ação e não de falação.
Hoje, a consciência me pesa! Dou este desabafo por terminado, mas não me dou por aliviado por causa disso. Silenciosa é a prece que guardo em mim, porque é preciso continuar acreditando que a vida tem algum valor e sentido – e sem dúvida tem! Porém, sinto uma compulsão tremenda de sair agora mesmo e, efetivamente, fazer alguma coisa. Qualquer coisa!
A dor na consciência já me fez refletir e lamentar. Entretanto, ela por si só é algo absolutamente estéril. Só é válida porque me compele a agir!
E você?!