A Síndrome de Barrichello
Caso você seja alguém minimamente plugado nas coisas de seu tempo, certamente já deve ter assistido a algum dos episódios d´“A Era do Gelo”; fantástica animação que é diversão garantida para toda família. No curso das tramas principais dos filmes, há uma pequena trama paralela vivida por Scrat, que é um esquilo que em nome da própria sobrevivência vive à caça de uma castanha – talvez seja uma nós ou avelã, não sei ao certo. Ocorre que toda e qualquer tentativa do bichinho em alcançar seu objeto de desejo, invariavelmente acaba causando-lhe algum desastre qualquer. Falando assim, não parece nada demais, contudo, é hilariante ver o animalzinho envidando mirabolantes esforços para chegar à tal castanha que, no mais das vezes, sempre está numa circunstância extremamente dificultosa e, quando ele imagina ter logrado seu intento, fatalmente algo de inusitado acontece que não só lhe tira das mãos o que obteve como, ainda, causa-lhe as mais variadas catástrofes.
A fórmula desse tipo de humor já é antiga e, desde o cinema mudo, já se tinha noção de que situações onde os protagonistas se ferem ou sofrem quaisquer danos ou prejuízos tende a causar risadas na platéia. O gênero “pastelão” ficou assim consagrado, pela costumeira torta na cara de alguém. Contudo, no caso de Scrat o que se vê em ação é a Lei de Murphy levada às últimas consequências. Afinal, ele vivencia em suas aventuras a máxima de que “se alguma coisa pode dar errado, dará”.
E a vida real está cheia de exemplos de que, na prática, às vezes, há uma nuvem negra a perseguir alguém. Eu, pessoalmente, não gosto do termo “azarado”. Como sou dado a eufemismos sutis, chamo a esse tipo de mal que acomete eventualmente algumas pessoas de “Síndrome de Barrichello”. Afinal, o piloto brasileiro Rubens Barrichello, de longeva carreira nas pistas de Fórmula 1, destacou-se – e ainda se destaca – pela incrível capacidade de colecionar insucessos. Parece que ninguém discute que ele tem habilidade e capacidade suficientes para ser um vitorioso. Entretanto, sempre há algum fator que lhe foge ao controle que acaba, como com o esquilinho d´“A Era do Gelo”, tirando de suas mãos aquilo que parecia seu, inevitavelmente. Há quem diga que Rubinho consegue chegar em segundo lugar, mesmo correndo sozinho.
Todavia, imagino que todos nós tenhamos aqueles momentos em que nos imaginemos acometidos da “Síndrome de Barrichello”. Circunstâncias onde temos a impressão que os deuses devam estar conspirando para que a gente se dê mal de um jeito ou de outro. Contudo, atribuir à fatalidade nossas mazelas e, diante disso, não esboçar reação, equivale a menosprezar o poder do livre arbítrio.
Creio que o melhor tratamento contra a “Síndrome de Barrichello” seja não render-se à frustração. Afinal, inúmeros também são os exemplos na vida de quem “levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima”. É bem melhor passar a vida tentando do que ficar tentado a só ver o melhor da vida passar.