Às mães verdadeiras
A natureza humana é cheia de ironias; umas mais sublimes e outras nem tanto.
Tem-se que o homem sobressaiu-se como o ser que povoa este planeta quase que de forma soberana, suplantando todas as demais criaturas, isto porque, em tese, é dotado de racionalidade que o torna capaz de adaptar-se às mais adversas circunstâncias e ainda, de evoluir por seus próprios méritos que reproduzem, em menor escala, os próprios dons do Criador que lhe teria servido de paradigma, espelho ou molde. Arrisco dizer, contudo, que lamentavelmente a racionalidade humana mais vem servindo como fator deletério para a evolução da humanidade do que para qualquer outra coisa.
Por outro lado, existe um aspecto que preserva esse gérmen divino nas contraditórias dicotomias humanas, no caso, uma capacidade ímpar para o amor. Presunção seria querer, aqui, discutir-se o amor em todas as suas facetas e possibilidades. Porém, é inegável que, se de um lado o ser humano é aquele que destaca-se das demais criaturas por suas características que o tornam supremo perante os outros seres, por outro lado, é aquele que, quando vem ao mundo é dos mais indefesos. Seus parcos instintos são tão inócuos para seu estabelecimento pleno como ser vivo, que não prescinde dos cuidados de quem lhe trouxe à vida.
O homem não teria a menor chance de sobrevivência ao nascer se não tivesse os plenos cuidados que provêm de sua genitora que, além de gestá-lo, ainda o sustenta, protege e orienta até que possa, enfim, arrogar-se com a mínima condição de autonomia de subsistência. Eis aí o primeiro papel fundamental que toda mãe tem perante sua prole.
É bem verdade que, desde tempos imemoriais, houve aquelas mulheres que não honraram com a nobreza devida esse papel de destaque na criação e formação humana. Não há o que enaltecer naquelas que fogem da maternidade por pura vaidade, ou que dela se esquivam pela incapacidade de renúncia, além das que, por motivos diversos, ou abortam precocemente a vida que deveriam gestar ou a desprezam – quiçá aniquilando – no momento pós-parto.
A despeito disso, a esmagadora maioria das mães honra sua nobilíssima condição com maestria e elas – acima e além de quaisquer outros seres – traduzem o amor verdadeiro como foi concebido nas esferas divinas. Diz Paulo, em sua primeira epístola aos Coríntios que:
“O amor é paciente. O amor é amável. O amor não inveja, não ostenta. O amor não é orgulhoso. O amor não é rude, não procura o seu próprio interesse. O amor não se irrita facilmente, não guarda memória dos erros. O amor não se alegra com o mal, mas regozija-se com a verdade. Ele protege sempre, ele confia sempre, ele tem sempre esperança, ele tem sempre perseverança. O amor nunca falha”.
Só existe, nesta vida, um amor humano que se aproxima disso tudo e é, justamente, o amor de mãe. O amor das verdadeiras mães.
O amor inequivocamente divino foi inculcado na natureza humana através do exemplo que todos nós tivemos – ou deveríamos ter tido – chance de conhecer primeiro: o amor de nossas mães. A mãe é exemplo que Deus compulsoriamente nos impõe como condição inexorável em nosso próprio nascimento.
As verdadeiras mães deveriam ser reverenciadadas todos os dias porque elas jamais dão a entender que sua condição equivale a “sofrer no paraíso”, mas sim, que é um dom de reproduzir o paraíso com seu amor que, por todos os meios, nos protege, tanto quanto possa, contra todo e qualquer sofrimento.
Aqui, fica uma homenagem à minha mãe e, por extensão, a todas as demais que, como ela são verdadeiras educadoras do amor legítimo, que é o único valor que pode tornar a racionalidade humana uma nobre condição de honraria ao Criador.