E o vencedor é...

E o vencedor é...
 

     No relato que farei a seguir, talvez eu peque por falta de um melhor detalhamento histórico ou, ainda, possa me equivocar quanto a um ou outro pequeno aspecto; contudo, em linhas gerais, o sentido do ocorrido é o que conta.   Vejamos.


     Fernando Pessoa, enquanto em vida, somente viu publicado um único livro no idioma português: “Mensagem”. Essa obra foi inscrita num concurso patrocinado por algum órgão de fomento cultural do governo português de então. Apesar de ter ficado em segundo lugar, foi o suficiente para ser editada sob o dito patrocínio e, ao que parece, não fosse assim, Pessoa não teria meios de publicá-la. 


     Pois bem! Depois de insistente pesquisa que fiz pela internet, constatei que o primeiro colocado naquele concurso foi... Foi... Sei lá! Não constatei nada! Na verdade, não encontrei uma referência sequer à obra vencedora ou quem fosse seu prestigioso autor. Da mesma maneira, a ilustre banca de julgadores era formada por... Por... Sabe Deus! Necas! Nenhuma informaçãozinha, reles que fosse, consegui encontrar.


     Tudo bem que Pessoa trabalhava como tradutor e que dominava plenamente o idioma inglês. Possui, também, considerável produção no idioma estrangeiro. Contudo, não deixou margem a dúvidas quando declarou que sua pátria era “a língua portuguesa”. Porém, seu valor para a cultura universal, neste nosso idioma português, somente foi plenamente reconhecido e amplamente divulgado depois de sua morte.


     Estamos no século XXI e as facilidades da informática permitem que qualquer um, sem distinção, possa dar notícia de seus arroubos literários nesse infinito espaço virtual. Certamente, muitos se destacam pelo considerável número de “acessos” ao que publicam virtualmente. 


     Os que são agraciados com essa frequência virtual, bem como, quem compõe a massa amorfa que opta por essa “clicagem” numerosa, creio eu, entrarão para a história como aquele primeiro colocado no concurso de que Pessoa participou, bem como aqueles anônimos julgadores que deixaram o grande mestre em segundo plano.


     Eu, certamente, sairei, como muitos, pelos esgotos da história e jamais serei nada além do que um leitor interessado no que é bom. Por isso, vasculho e vasculho o tempo todo, em busca dos obscuros, dos esquecidos, dos não populares, dos que não se rendem ao que é simplório e fácil. Tenho esperança de tomar contato precocemente com alguns dos verdadeiros vencedores que serão julgados pela história. A busca é árdua, mas creio que o resultado compensa.   


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Nota do Autor:  Após a publicação de minha tosca croniquinha, o meu amigo e irmão lusitano HENRICABILIO (vejam-se seus comentários), trouxe valiosas informações a respeito, não só sobre a obra vencedora do concurso e seu autor, bem como, sobre os critérios que, enfim, teriam justificado a segunda colocação do trabalho de Fernando Pessoa, cujo valor literário não teria sido, enfim, relegado a plano secundário. Ainda bem que fiz minhas ressalvas sobre a imprecisão histórica de meu relato.  Alivia-me, contudo, que o sentido geral do enfoque que procurei dar ao tema não seja de todo inválido, isto é, vencem os que se perpetuam na história e não os que colhem os efêmeros louros de sucessos passageiros.