Mudanças
Há alguns meses mudei-me! Após vários anos em que mantive moradia no meu local de trabalho, agora, já posso dizer que desenvolvo meu trabalho no local onde moro. É uma sutil, porém, por demais relevante diferença. E, a bem da verdade, os contrastes não param por aí.
Antes eu me situava na região dos Jardins, aqui em São Paulo - na Rua Augusta próximo à esquina com Alameda Lorena, para ser mais preciso. É, ali mesmo, bem próximo da Avenida Paulista, ou seja, nas paragens mais cosmopolitas deste nosso subdesenvolvido Brasil. Cá para onde mudei-me, agora, sou vizinho da Reserva Florestal da Cantareira; mais precisamente, o conjunto habitacional onde fica o prédio onde moro situa-se bem em frente ao Horto Florestal. Ou seja, vim parar na periferia do subúrbio, já no extremo norte da capital paulistana.
As motivações que levaram-me a sair de meu antigo endereço foram várias. Contudo, a razão pela qual optei por transferir-me justamente para aqui onde estou foram bem específicas. Eu quis ficar perto de onde moram meus filhos e, também, minha mãe. Coincidência não é que minha mãe more no edifício em frente e, menos ainda, que algumas poucas quadras separem meus promissores herdeiros deste seu pai já em fim de carreira.
Saí de um lugar que resguarda aparentes ares de sofisticação e onde, ainda, eu dormia e acordava com os ruidosos sons do trânsito maluco desta cidade. Vim parar num outro lugar que, apesar de evidentemente mais humilde tem, ao cair da noite e ao amanhecer, a trilha sonora de uma renitente passarada que, obviamente, desfruta das extensas áreas verdes que por aqui se preservam. Ah! Foi uma verdadeira guinada do frenético ao bucólico!
Apesar disso tudo ter se consumado há alguns meses, ainda não me acostumei. Sinto que esta vizinhança tão calma e este ar tão puro possam comprometer seriamente minha sanidade física e mental, afinal, meu metabolismo e meu espírito já estavam adaptados a um habitat mais agressivo. Sinais evidentes quanto a isso posso notar pelo agravamento de minha insônia e, pior ainda, pelo acentuado comprometimento de minha inventividade escrivinhadora.
Antes, eu preenchia minhas solitárias horas criando textos e mais textos – compulsivamente, até! E agora, elas não só continuam solitárias como, ainda, ficaram vazias, porque não brota quase nada de meu senso criador. Acho que o incômodo é que estimula a criação, porque circunstâncias hipoteticamente mais confortáveis a estão bloqueando.
Convenhamos, esta é a crônica mais sem graça que eu já construí! Amanhã mesmo estarei comprando uma cama de pregos, porque preciso desesperadamente escrever algo que valha a pena.