Após tomar banho com as sete ervas, Verônica entrava no quarto do casal segurando o amuleto à frente de seu corpo. Nestas horas, o imenso olho grego — comprado numa feira mística — parecia o escudo de um gladiador. O ritual das manhãs terminava quando, diante do olhar ainda sonolento do marido, a mulher dava três pulinhos, repetindo:
— Sai pra lá, inveja! Sai pra lá! Sai, sai, sai!
Naquele fim de tarde, ao voltar para casa, Verônica jogou-se no sofá, empurrando o marido contra o braço do móvel. Uma longa lista de reclamações rompeu o silêncio na sala. Graças ao pneu furado, chegara atrasada à reunião com seu diretor. Além do temperamento insuportável do sujeito, ela teve de engolir sua indisfarçável ironia: a desejada promoção não seria de Verônica, mas da nova colega transferida pela matriz. E a cereja do bolo: durante o almoço, um garçom derramara suco de uva em sua blusa de seda italiana.
Verônica cobriu o rosto com as mãos:
— Tudo errado... Não sei mais o que fazer.
O marido, que escutara a ladainha em silêncio, deu um longo suspiro enquanto pensava numa forma de confortar a companheira. Quem sabe, se ele argumentasse que o segredo era olhar para o tal lado cheio do copo? Não. Soava demasiado clichê. E se ele dissesse que a vida não seria viável sem tolerância às frustrações? Não! Não! Não! Isto alimentaria uma verdadeira tese. Melhor outra saída: o caminho mais simples.