ALMAdeVAQUEIRO-ChicoDoCrato-GeraldoDoNorte
ChicoDoCrato, Música, Voz, Violão, Sintetizador Arranjo, Mixagem e Adaptação do Cordel de GeraldoDoNorte
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Eu ofereço orações
Para as almas dos vaqueiros
Que assim como zelações
Percorrem sertões inteiros.
Por isso em noites escuras
Olhando bem pras alturas
Se vê Luz, o Fogaréu…
Não temem, mantenham a calma
Que com certeza são almas
Nos cavalgados do Céu.
Então, se ouvir um tropel
Feito estouro de boiada
É só tirar o chapéu
Se benzer, sem temer nada
Pois são almas com saudade
E, soltas da gravidade,
São livres na Cobertura
E sobre corcéis alados
Vêm ver como tem passado
Os bichos dessa planura.
Aqui, sofreram agruras
Correndo atrás de animais
Se embrenhando nas lonjuras
Como quem busca ideais.
Desse jeito faz sentido
Pra quem tem bicho perdido
Se armar de muita fé
E rogar para os vaqueiros
Que eles chegarão ligeiros
Pra fazer o que puder.
E nem precisam sequer
Prometer às santas almas,
Uma oferenda qualquer;
Milho, feno, fruta ou palma
Pois o melhor pagamento
Pra um vaqueiro é o alimento
De um animal de estimação
E eles amaram todos
Tratavam e mantinham gordos
Sem nenhuma distinção.
Doutores na profissão
Foram obstetras de vacas
Puxando crias à mão
Quando as mães estavam fracas
E assim salvaram magotes
Toda sorte de filhotes.
Vaqueiro tem a mão santa
Onde põe um dedo cura
E na fé forte e segura
Faz crescer tudo o que planta.
No trabalho se agiganta
Vivendo o fim de aventuras
Conselhos , não adianta,
Faz parte da conjuntura.
Brincadeiras perigosas
Estripulias amorosas…
Eles tiveram demais
Com sua fé e seus cantos
Seus olhos só viram o pranto
Quando morreram animais
Pros bichos, foram babás
Por feiras, campos e baias
Das caatingas, generais
Nunca fugiram dos raios
Com chapéus de abas curtas
Sua figura se avulta
Na cultura brasileira
Forrós, repentes, cantigas,
“Causos”, histórias antigas
E as receitas caseiras.
Quando um bicho de primeira
Que ele mesmo amansou
Foi pro abate na feira
Sentiu-se tomado de dor.
E como contra-veneno
Pra um outro animal pequeno
Transferiu o seu carinho
Do animal que se foi
E assim amansa outro boi
Pr’aquele patrão mesquinho.
Vai fazer seu caminho
Sobre a cela do alazão
Tapando pedra e espinho
Jamais perde a atenção
Seu despertador é o galo
Seu companheiro o cavalo
Melhor amigo, seu cão
Se sofre de amor, não diz
É um São Francisco de Assis
De bota, chapéu e gibão.
Vaqueiro de convicção
Se uma cobra morde o bicho
Ele parte pra ação
Suga o sangue no capricho
Mas se morre um animal
Reza, faz “pelo sinal”
Guardando um dia de luto
Os bichos todos agradecem
Mugidos são como prece
Pr’aquele Cristo Matuto.
Pra um vaqueiro é insulto
Se o chamam de boiadeiro
Porque faz lembrá o vulto
De um machante, de um toureiro
O vaqueiro é protetor
Seu papel é defensor
Honra o nome e a arte
Não mancha as mãos de sangue
Desse povo, dessa gangue
O vaqueiro não faz parte.
Vê nuvens em estandartes
As flores dos trapiás
Que a natureza reparte
Com o canto dos sabiás
E oferece as estrelas
As moças depois de tê-las
Na quentura da paixão
E sempre assumem a vera
Os filhos da primavera
Que nascerão no verão.
Difícil definição,
Meio sonho, meio mágoa
Feito fruto do sertão
Que tem mel em vez de água
O vaqueiro desse jeito
Juntando dentro do peito
Pedaços de integridade
Meio animal, meio santo
A roupa de couro é um manto
Ele inteiro, Humanidade.
Quando Deus cheio de bondade
Lança a terra a escada
O velho sela a saudade
E sobe a última morada
Mas lá em cima ele não para
Tropeia em noites claras
Abóia na imensidão
De repente, a luz um rastro….
É ele montando um astro
Dando aos bichos a benção.
Foi vida com coração
Doação o tempo inteiro
Cumpriram a obrigação
E deixaram pros herdeiros
Não dinheiro, mas um nome
E os valores que não somem
E nem se perde no tempo.
Em cada velha fazenda
Um vaqueiro virou lenda
Deixaram lição no exemplo.
Bis
Neste poema contemplo
Quem cumpriu com seu dever
E hoje se acha no templo
Magnânimo do poder.
Porque cumpriu a missão
Na luta sem omissão
Ou um minuto de pausa
Por Deus, tem que ser benquisto
Porque com Jesus Cristo
Deu a vida numa causa