UM GOLE DE TEQUILA NA LUA
Naquela noite, um homem trajando terno sentou-se no canto do balcão, e pediu um Martini. A elegância do sujeito não parecia natural. Gustavo imaginou que poderia ser um detetive disfarçado. Não seria a primeira vez que alguém suspeito era flagrado ali. O dono do bar serviu o drinque em silêncio enquanto o homem acendia um charuto.
— Não. Você não pode fumar aqui.
O sujeito colocou uma pilha de notas sobre o balcão, encarando Gustavo que manteve um leve sorriso ao falar:
— Vou fazer de conta que não vi a grana nem seu charuto horroroso.
O estranho guardou o dinheiro no bolso. E deu uma longa baforada antes de apagar o charuto. Do outro lado do balcão, uma mulher levantou-se segurando uma taça de vinho. Ela olhou para o desconhecido que bebia Martini, e sorriu, erguendo sua taça:
— Muito prazer, Mônica. E você?
— Eu?
— Quem mais? Não há ninguém aí além de você.
— E como sabe disto?
— Bem, eu não vejo outra pessoa.
— Que pena! Você não sabe o que está perdendo.
A loira sorriu sem a menor ideia do que o homem quisera dizer. E voltou para o seu lugar. Não era sua noite de sorte. Naquele instante, um antigo cliente entrou no salão. Embriagado, começou a cantar. Gustavo adiantou-se:
— Lorival, se quiser ficar aqui, já sabe: nada de música.
— Música? Quem quer música? Quero tequila, Gustavo.
O bêbado sentou-se ao lado do homem de terno. E disparou:
— Martini? Não bebo isto há décadas. Minha paixão agora é tequila.
O homem com a taça de Martini quase vazia não olhou para o lado, e parecia completamente distante ao responder:
— Nada se compara a um gole de tequila na lua.
— Ah! Esta é boa! Você é astronauta?
— Não. Sou de outro planeta.
O bêbado abriu um largo sorriso:
— Finalmente alguém pra conversar.
Atrás do balcão, Gustavo retrucou:
— Vai ser uma longa noite.
(*) IMAGEM: Google