Dod Nero, este é o meu nome, dado por meus donos, três adoráveis crianças. Dod, devido a suposta pueril pronúncia em inglês para"DOG"; Nero, do italiano (negro), devido à cor de minha pelagem. Fui doado a Raquel, em setembro de 1993, pelo Raoni, dono dos meus pais, um casal poodle de pelagem preta, como a minha.
Não foi fácil para mim acostumar-me com o novo lar. Os pais da Raquel não me queriam, justificando que não teriam tempo de cuidar do cãozinho. Mas de tanto minha dona insistir, ajudada por seus dois irmãos, eles cederam, mas com uma condição: a garotada seria responsável por tudo pelo mascote recém-chegado. “Oba!” fizeram coro.
Meia noite, acordei com uma bruta fome e nada fazia me calar. Sentia enorme falta das tetas de minha mãe e do aconchego dos meus outros irmãozinhos, pois gostávamos de dormir feito uma trancinha canina.
Os donos da casa, levantaram-se aborrecidos porque, de cara, a trabalheira que dava sobrou só para eles, enquanto meus novos amiguinhos dormiam feitos anjinhos. Leitinho morno no comedouro não era capaz de me fazer calar. Queria também o calorzinho do regaço da mamãe. E uma pocinha de mijo aqui, outra ali, tirava a paciência da dona da casa que ameaça devolver-me no dia seguinte. Mas aos poucos fui conquistando os donos da casa e, em pouco tempo, eu me sentia parte da família. Acostumei a fazer minhas necessidades fisiológicas no passeio da manhã e da tarde. Com isso fui-me educando e não mais fiz sujeira no apartamento deles, mas contava os minutos que antecediam a descida e passeio imperdíveis.
Se eu tinha alguma dúvida se o Pai do meus donos gostava de mim, logo não tive mais. Como cheirar é o meu contínuo respirar para mim, em tudo metia meu focinho. Numa dessas me dei mal. Fui quase morto para a veterinária, Drª Suerda tomar soro e antitóxico, por 3 semanas. E isso era o maior luxo, pois ia e voltava nos braços dele. Não tinha força para caminhar. Apesar de eu ser chefão, decidir escolher o Pai para ser o líder da matilha, só para massagear o seu ego.
Três anos mais tardes, migramos da capital para o interior. Foi divertido, receber aquele vento legal no focinho nas 8 horas que durou a viagem. Ao chegar no destino saí para marcar o território. Era noitinha e, mais uma vez, meti o meu focinho onde não devia. Um rato morto envenenado foi minha perdição. Fui dormir embaixo da rede do Pai dos meninos. Por volta das 4h 30min da madrugada comecei a ofegar e dar o meu último suspiro. Ele acordou assustado com a minha ânsia por respirar, pensando que fosse uma das crianças. Mas era eu, bem ali, embaixo de sua rede, dando meu último suspiro. “Eita, Deus! O Dod morreu!” Gritou ele, com voz forte, mas abafada, por causa da hora. Meus doninhos acordaram imediatamente.
O Pai deles levou-me inerte lá para o quintal e começou a dar-me massagens cardíacas. Minha língua roxa, estava colada lá no fundo da boca. Ele alternava em massagens cardíacas e depois puxava minha língua para fora e colocava um pouco de água para que eu bebesse, enquanto os meninos oravam pedindo a Deus que me curasse. Se aquilo era o procedimento certo, não sei. Só sei que revivi. Depois disto, produzi belos filhotes que renderam muito bem para ele, pois todos queriam um filhote meu.
Por várias vezes, empenhei minha vida para defender a deles. Também tinha a certeza de que eles eram, de fato, meus melhores amigos. Sempre os considerei assim. Cheguei a pensar que a recíproca era verdadeira. Sempre gostei de descansar aos seus pés e era o meu desejo dar o meu último suspiro justamente aos seus pés. Agora estou com meus catorze anos. Quase quinze. E estou justamente numa 'Dogcarrier', uma espécie de 'dogtaxi', rumo a uma clínica veterinária para me submeter a uma eutanásia. Tento gritar, mas o mais que posso é exprimir um leve gemido, pois força me falta para latir tudo o que eu sinto. Estou muito chateado. O meu sonho em vida era morrer as pés dele, mas agora estão me levando e sei que logo, logo, não mais existirei.
E eu que sempre defendi a ideia de que o homem é o melhor amigo do cão.