José António Gonçalves
O pássaro morreu. Finou-se
em pleno voo. Foi um mal
que lhe deu. E foi-se.
As asas não caíram primeiro.
Pois primeiro caiu o silêncio
nos olhos da tarde. Derradeiro
foi o seu esgar. O Sol, afinal,
desconhecedor, apenas arde.
Uma profunda tristeza tomou
conta do vasto azul celestial.
Não deu para distinguir a sua
cor. Estonteado pelo dia, viu a lua
nos seus ímpetos espertos de pardal.
E depois o seu corpo de penas assomou
o verde da terra e amalgamou-se.
Ninguém escreveu a notícia.
Ninguém se importou.
Mas a verdade
é que neste fim de tarde
um pássaro morreu. Finou-se.
E o Sol, desconhecedor,
apenas arde.
José António Gonçalves