Palavras são palavras?

Palavras são palavras?



Houve um tempo em que eu escrevia porque as palavras eram os resíduos de meus sonhos. Havia poemas de amores impossíveis, crônicas de aventuras não vividas e contos de desejos não consumados. Naquela época, eu escrevia sobre a vida que eu gostaria de conhecer.

Vivi! Mas a vida correu fora das entrelinhas, fugindo das pautas, extrapolando as bordas das páginas e, mais ainda, corrompendo os finais que deveriam ter sido  mais felizes. As palavras foram surgindo como rastros no caminho. Vieram os poemas de saudades sem remédio, crônicas de fracassos mal digeridos e contos de prazeres pouco gozados. Nesse tempo, eu escrevi a respeito da vida que passou. Passou mesmo... indócil, por cima de mim!

Porém, a vida seguiu mais um pouco! A maturidade sedimenta a massa amorfa que brota do atrito entre o sonho e a realidade. Agora, as palavras têm vontade própria. Hoje, não escrevo mais sobre a existência, nem em poemas, tampouco em crônicas ou mesmo em contos. Hoje, a vida é que me lê e são as palavras que me escrevem como sou!