Cantador aluado extraterrestre
Sabedor de segredos milenares
Viajei pela terra e pelo ares
Sou centauro do mar e do agreste
Com coragem de bons cabras da peste
Tenho o dom do profano e do sagrado
Na galera de Deus sou respeitado
Por cantar tão antigos sons eternos
Pranteando os sertões fazendo invernos
Nos dez pés de martelo agalopado
Sigo a estrela que toca minha lira
As visões refletidas num lampejo
As diversas versões de um só desejo
Cada um sabe o sonho que lhe inspira
Nostradamus o profeta não previra
Cantador quando canta alumiado
Sua nave encandeia a todo lado
Com requebros de Elvis num rompante
A platéia lhe aplaude delirante
Nos dez pés de martelo agalopado
Se maior é o arpejo da pureza
Do Dalai no seu mantra pelo mundo
A ternura de um Chaplin vagabundo
Digo a todos em alfa com firmeza
Sabe mais do que nós a natureza
Que o poeta em seu verso inspirado
Não carece discurso ou leriado
Os arcanos confirmam sobre a mesa
Que a essência da arte é a beleza
Nos dez pés de martelo agalopado
Instalado entre luzes no terreiro
Quero fazer aqui essa homenagem
As cabeças cortadas são visagens
Virgulino esta vivo todo inteiro
No arruado do céu ele é porteiro
Como todo anjo mau aposentado
Diz que foi nessa vida injustiçado
Lampião foi um dia um bom menino
Como tantos famintos nordestinos
Nos dez pés de martelo agalopado
Quando canto do mistério a profundeza
Cesse tudo que a razão me alumia
Amo a luta do povo e a alegria
A força do amor sempre é riqueza
Pra vencer os vikings e a tristeza
Não importa o presente ou o passado
Se todo meu canto já foi tomado
Por milhões de romeiros beradeiros
Pelo grito engasgado dos roceiros
Nos dez pés de martelo agalopado
Lendo as linhas da vida há vidência
O improviso é um dom paranormal
Aderaldo para mim é genial
Pela luz que banhou sua existência
Fez do sol nordestino referencia
Informática do tempo digitado
E por isso reclamo ser lembrado
Como Beatles, bethoven e Noel
Para ele também tiro o chapéu
Nos dez pés de martelo agalopado
Os meninos de rua são tocantes
Com seu cheiro de cola e gasolina
Mulheres são mortas nas esquinas
Pelo mal dos amargos enervantes
O poder das culturas dominantes
Poluindo o planeta baqueado
Extermínio de bebês já programados
Cucarachas são o lixo marginal
Dão suas vidas pela dívida ancestral
Nos dez pés de martelo agalopado
Inimigo atento sempre alado
Paladino de araque do oprimido
De país da verdade travestido
Paraíso do mundo disfarçado
Quem entrar no seu time ta ferrado
A charanga do céu toca um dobrado
Mas quem dança fica logo abirobado
Na toado, no xote ou no baião
Só pentágono pra lhe dá indigestão
Nos dez pés de martelo agalopado
Chico Mendes, Fonteles e Margarida
Despertaram do sono na floresta
Encontraram o Brasil numa só festa
Num canto liberto pela vida
Monte santo era a terra prometida
Todo povo feliz e bem forrado
Divididos na terra sem mandado
Todo verde num branco Santo Daime
Nas manchetes do new York times
Nos dez pés de martelo agalopado