Veneno chamado ignorância

Há quem diga que não há nada pior do que a pobreza; que a miséria material é capaz de tirar a dignidade de qualquer ser humano. Pois há, sim, algo que consegue ultrapassar o limiar da pobreza e ainda transformá-la em um veneno de ação vagarosa. Assim é a ignorância, uma corrente atada às pernas que impede ricos e pobres de vencerem os limites que nem com todo dinheiro do mundo se é capaz de ultrapassar.

Recordo-me de uma família paupérrima que morava na minha cidade natal, no interior da Bahia. O pai, um daqueles barbeiros tradicionais, sustentava sozinho a esposa e sete filhos numa casa praticamente sem móveis, sem luz elétrica e com apenas um banheiro no quintal. Na infância pude entrar lá algumas vezes, já que o mais novo dos filhos era da turma de amigos. Praticamente sem brinquedos, ele ia com frequência à minha casa para poder usufruir dos meus.

Mesmo com tamanha pobreza aquela família se ergueu sobre alguns pilares fundamentais. Entre eles, a valorização da religiosidade, da honestidade, da honradez e dos estudos. Enquanto os pais possuíam bem pouca instrução, seus filhos freqüentaram a escola como bons alunos até terminar o Magistério (único curso de Ensino Médio que existia na cidade à época).

Naquele lar todos sabiam que somente vencendo a ignorância seriam capazes de vencer a pobreza. E, de uma certa forma, venceram. Com a morte do pai, os filhos assumiram os destinos da família e galgaram degraus sociais consideravelmente difíceis. Cada um encontrou a sua profissão, seja como professor ou bancário, seja como pedreiro ou funcionário público. O caçula, do meu rol de amigos de infância, é formado em Farmácia e vive hoje no interior de São Paulo, onde também atua como professor.

No entanto este não é o exemplo mais comum de se ver. É bastante fácil encontrar pessoas marcadas pela penúria financeira que preferem sobreviver expondo este quadro em troca de pena. Sem qualquer intenção de generalizar, conheço algumas delas que vivem em meio à imundície com o argumento de que isso é uma consequência da sua pobreza material. Procuram ajuda em forma de esmola e expõem seus filhos em vestes maltrapilhas com a clara intenção de comover.

É certo que as vítimas da miséria social não podem ser necessariamente responsabilizadas pelo ponto em que chegaram. Mas é de se esperar que seres inteligentes façam uso dessa condição em benefício próprio. A decisão em romper com a ignorância é o primeiro de muitos passos para frente. Adquirir conhecimentos (formal ou informalmente) nunca é demais e pode ser o antídoto para um veneno que mata aos poucos.

Roberto Darte
Enviado por Roberto Darte em 13/05/2008
Código do texto: T987291