Da sociedade para a sociedade

Há quatro anos, no primeiro ano da faculdade, a professora Corintha, de sociologia, além dos conceitos básicos da ciência em questão, conclamou-nos a estudar com uma boa profundidade o terceiro setor. Para isso, a classe foi dividida em grupos, e vários temas propostos para que os alunos apresentassem em formato de seminário, trabalhos de pesquisa.

Ao nosso grupo coube pesquisar sobre “Metodologias e Técnicas para Arrecadação de Recursos para o Terceiro Setor”. A pesquisa foi feita inicialmente na Internet, e em um segundo momento, em entrevista a gestores de entidades assistenciais e clubes de serviço.

Na Internet identificamos algumas formas de captação de recursos, em organismos estaduais e federais, entidades internacionais, clubes de serviço e mais algumas formas que dependiam de projetos, análises, e, em um momento posterior, de lobby. E, nas entidades e clubes de serviço, vimos que isso era ao mesmo tempo mais fácil e mais difícil. Mais fácil, quando as entidades iam buscar na sociedade, através de donativos, contribuições, doações, festas, quermesses, almoços, jantares e um monte de outras formas. E mais difícil, quando todas as formas citadas aconteciam, e seus gestores encontravam obstáculos de difícil transposição, tais como má vontade, falta de reconhecimento, desconhecimento da estrutura das entidades, visão distorcida de seus trabalhos, e principalmente falta de credibilidade, pois é sabido que há uma grande quantidade de entidades fantasmas, que colocam verdadeiros exércitos de “colaboradores”, que buscam junto à sociedade as doações, que vão para seus próprios bolsos. Praticamente todas as entidades e pessoas da sociedade já tiveram algum contato com estes casos.

Mas, contrapondo a esta dificuldade, encontramos “entidades de caráter privado, sem fins lucrativos” que gozam de excelentes conceitos pelos trabalhos realizados, e pela boa administração de seus gestores, que encontram menos obstáculos.

Só que a sociedade não analisa que o resultado futuro desses obstáculos é um aumento de problemas que a própria sociedade irá sofrer. Temos que analisar que se algumas entidades de amparo a menores forem fechadas, serão mais menores nas ruas. Se asilos e casas de assistência a idosos não cumprirem seus compromissos financeiros adequadamente, serão fechadas, e pais de nossos amigos, vizinhos, ou até mesmo nossos, não terão como obter o auxílio necessário. Também entidades que cuidam de deficientes ou portadores de necessidades especiais que não conseguirem saudar suas dívidas, devolverão à sociedade pessoas que precisam dos cuidados especiais.

Aí, os deficientes físicos, visuais ou mentais serão hóspedes problemáticos de quartinhos de fundo, cantinhos de casas, e sem tratamento adequado, terão seus membros, órgãos e até cérebros atrofiados ou irrecuperáveis. Os idosos habitarão marquises, viadutos, subsolos ou lugares piores, gerando doenças e esperando a morte nas piores condições possíveis. Também crianças, jovens e adolescentes habitarão as ruas, buscando comida, roupa e algo que atendam suas necessidades ou desejos, na forma mais fácil que encontrarem, geralmente através de furtos, roubos ou outros delitos piores.

A solução está em encontrar alguém que faça aquilo que o governo não pode ou não quer fazer, e a iniciativa privada não deseja fazer, porque não dá lucro direto, nem gera emprego ou renda. Este “alguém” são entidades de assistência, amparo e tratamento aos necessitados.

E, indo à forma mais fácil de captação de recursos, a sociedade necessita doar mais e melhor às entidades assistenciais. Mais, quando ao invés de doar “um realzinho”, a camisa velha, o arroz que sobrou, ou a “pelanca” que não vende, aumente para dez, vinte ou cem reais, doe a camisa nova, mais quilos de arroz, e carne boa e macia. E melhor, quando escolhemos as entidades que cuidam de gente que está mais perto de todos nós.

Nossa cidade tem uma grande quantidade de entidades que cuidam de vários tipos de necessitados. Tem de assistência a deficientes físicos, visuais ou mentais, de tratamento a dependentes químicos, de amparo à criança e ao idoso... É só escolher. Mas escolha bem, pois temos à nossa porta pessoas com crachás e tudo mais, de entidades que nem existem, e conseguem receber alguns reais, no entanto, o São Judas está em dificuldades, o Bezerra tem problemas financeiros, a Ardef está apertada.

Todas estas entidades da cidade estão com seus telefones no catálogo, têm seus endereços divulgados, e seus gestores são pessoas da nossa sociedade. Então, temos que escolher uma, duas ou quantas pudermos, e visitar, trabalhar voluntariamente por algumas horas semanais, mas principalmente doar. Doar tempo, dinheiro, arroz...

Só assim a sociedade terá mais jovens no São Judas, mais deficientes físicos na Ardef, mais deficientes visuais no IRCT, mais portadores de distúrbios mentais no Bezerra e mais paz em todos os seus domínios.