"Com Muros"
“COM MUROS”
Desde há muito tempo o tema brasileiro mais discutido da atualidade são os Direitos Humanos. Discutem-se os direitos dos presos, dos favelados, dos sem-terra, etc. e, ai daquele que ouse discordar. Se há direitos, também, há deveres que deveriam ser cumpridos, ou seja, que os moradores de favelas não ateiem fogo em suas moradias e em viadutos; que os sem terra sejam, realmente, “sem terra”, pois sabe-se que a maioria dos invasores possuem rendimentos próprios e se misturam, ligados a ideologias, que acreditam ser verdadeiras... E, por aí, vai...
Hoje, quero chamar a atenção das Entidades de Direitos Humanos e até dos órgãos governamentais, para uma classe esquecida de todos, vivendo em condições miseráveis, tanto financeira quanto psicologicamente. Trata-se de dos policiais militares que trabalham nas muralhas da Casa de Detenção de São Paulo, Carandiru, onde estão recolhidos mais de 7.000 (sete mil) homens, pesando sobre eles os mais variados tipos de delitos: assaltos, latrocínios, homicídios, estupros, etc. Esses policiais são obrigados a caminhar, horas e horas a fio, em cima do muro (literalmente, falando) e, pasmem, recebendo todo o tipo de impropérios desses presos, e até objetos de todo tipo são-lhes atirados. E o policial o que faz? Nada. Não pode fazer nada, a não ser, calar-se e esperar o seu turno de 6 (seis) horas terminar para ir para casa.
Há poucos dias, em visita ao 1º Batalhão de Policia de Guarda, tive a oportunidade de conhecer esses muros e, anonimamente (sem que soubessem tratar-se de um Juiz) postei-me e passei a observar os pavilhões 8 e 9 daquela instituição. O que vi e ouvi jamais vou esquecer. Quando, pelas janelas de suas celas perceberam uma figura feminina (repito, que não sabiam quem eu era) esses presos iniciaram uma série de ofensas, palavrões, frases que jamais poderia imaginar ouvir, de tão “podres” que eram. Isso sem contar os pacotes contendo drogas que são jogados para dentro desses muros até de helicópteros.
Retornando à minha visita aos muros, eu, que como Juíza Militar ( a única mulher neste Estado) já vi de tudo, confesso que não agüentei ficar ali parada e em menos de 5 (cinco) minutos estava deixando o local, arrasada e com meus nervos em frangalhos. Imagine qualquer um de nós permanecer naquele local por mais de 2 (duas) horas consecutivas, e todos os dias. Não suportaríamos tal situação. Mas, os policiais não têm escolha, além de perceberem uma miséria em seus vencimentos não lhes é dado nenhum tipo de assistência, quer psicológica, quer familiar, quer emocional. São ignorados por todos nós. Que tal, a partir de agora, os Órgãos competentes começassem a fazer alguma coisa por esses policiais? E, se duvidam do que escrevo, é só ir conhecer essa muralha (no anonimato, é claro) e, tenho certeza, passarão a tratar esses mesmos policiais como “gigantes da natureza humana”. A esses policiais do 1º B.P.G.d. as minhas homenagens.
São Paulo 31, de agosto de 2000.
ROSEANE PINHEIRO DE CASTRO