Dificuldades no ensino de língua estrangeira moderna

Tenho quatro anos de experiência como inspetor de alunos, essa condição de estar ambientado na escola garantiu-me conhecer a realidade do sistema educacional brasileiro, em especial o ensino público estadual paulista.

Posso afirmar que no ensino de língua estrangeira moderna há basicamente dois pontos diferentes relacionados de quinta a oitava série. Particularmente em Santa Bárbara d’Oeste, onde as crianças cursam até a quarta série em unidades municipais, não tem acesso nenhum através da escola no conhecimento de uma segunda língua. Adentram a quinta série da rede estadual sedentos de conhecimentos em língua inglesa, qualquer palavra que o professor pronuncia eles acham maravilhoso e começam a tomar gosto pelo aprendizado.

O interesse pelo inglês dura praticamente na maioria dos alunos até a sexta série, depois perde aquele encanto tão apreciado. Aponto assim os dois pontos distintos: o encanto e interesse da quinta até a sexta série; a descrença e o desinteresse começando da sétima, adentrando a oitava série e persistindo até os três anos de ensino médio.

Acredito que esse período de encantamento acaba porque não foi explicitado para o aluno a necessidade do conhecimento, não foi dito que no atual estágio de globalização em que nos encontramos é imprescindível o conhecimento de uma segunda língua, que hoje pode ser definido como passaporte para um mundo de informações úteis na esfera pessoal e profissional. Um dos principais meios de comunicação da atualidade, a internet, exige um conhecimento no mínimo básico na compreensão de softwares e hardwares desenvolvidos para facilitar o nosso dia-a-dia.

Enquanto servia de novidade, os discentes interessavam para aprender, depois caiu na rotina e não sabendo da necessidade foi perdendo o interesse até atingir o ponto de concluir o ensino médio e possuir um de inglês restrito apenas ao verb to be. É importante destacar também o desinteresse a partir de uma idade em que os hormônios começam a ferver, parecendo que vai explodir, com muitas mudanças corporais e de atitudes.

Outra questão saliente no que diz respeito ao ensino de línguas é a falta de materiais disponíveis para o docente, as escolas sequer possuem um dicionário bilíngüe, instrumento indispensável quando pretende adentrar a um mundo totalmente alheio. Até o ano de dois mil e sete não existia uma proposta pedagógica para o ensino de línguas, basicamente para nenhuma disciplina. O professor tinha em, mãos apenas os PCNs que também pouco adiantava, porque não especifica o que trabalhar em determinada série e/ou bimestre, assim cada professor montava a sua proposta, supondo o que achava interessante apresentar para o aluno. Então o professor de quinta série em determinado bimestre falava de verb to be, quando esses alunos chegavam à oitava série, um outro professor, também achava interessante o verb to be e sequer sabia que um outro colega já tinha abordado tal assunto. Essa repetição de conteúdos foi desgastando e fazendo com que o aluno perdesse o interesse, nada mudava. Agora com a nova proposta, a secretaria de educação do estado de São Paulo unificou o ensino e estabeleceu conteúdos a serem trabalhados em bimestre específicos.

Investem tanto em material de apoio, mas esquecem do personagem principal dessa trama chamada educação. Acredito que um professor motivado é peça chave para um bom ensinar, não existe coisa pior do que trabalhar sem incentivo de diretor, secretário de educação, sindicato que não tem voz e com um governo que insiste em formar cidadãos incapazes.

Tudo bem que o professor precisa demonstrar o seu potencial, chamar a atenção do aluno com aulas interessantes e desafiadoras, mas quem motiva o professor? Quem está preocupado em saber se ele tem uma casa para morar? Como faz para se deslocar até o serviço? Como está a situação familiar? Entre tantas outras questões que ninguém que saber. O professor é um herói, não tem problemas, tem uma família maravilhosa, tem uma casa própria, não anda de ônibus e sequer utiliza a maior parte de seu pagamento em compra de remédios.

Os interesses políticos estão falando mais alto e os educacionais sequer são lembrados, pelo contrário, a educação é manipulada pela classe política a fim de favorecer seus caprichos.

Enquanto a educação estiver vinculada aos interesses políticos nada vai melhorar, é dever do Estado garantir educação de qualidade a todos, porém não é dever do estado veicular seus interesses aos interesses educacionais!

Nosso povo parece estar “estacionado” no tempo, se contentam com as esmolas que o governo dá e nada faz para garantir um futuro melhor, anseiam viver sempre dependentes do governo que os querem cada vez menos informados, cada vez mais analfabetos, incompetentes e incapazes de questionar as leis e medidas provisórias editadas a todo o momento.

Giomário Nunes Torres
Enviado por Giomário Nunes Torres em 15/04/2008
Código do texto: T946971
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