A CALÚNIA
A idade nos leva muita coisa que gostaríamos de preservar,como a força juvenil,os arroubos amorosos,o entusiasmo e as esperanças,que vão ficando para trás,como dizia o poeta Antonio Tomás,enquanto os desenganos vão conosco á frente.Mas,uma coisa,não perdi,a capacidade de me indignar.Quando vejo pessoas e famílias serem jogadas aos lobos,por uma mídia ávida de lucros,reputações destruídas sem provas concretas,pessoas como eu e você,que dormem como pessoas comuns e acordam como monstros,injustiçadas,atiradas á lama,sem poder falar ou protestar,contar sua versão da história,porque não são donas de jornais ou de TVs,não tem parentes importantes,isto,sim,me incomoda e devia incomodar a todos nós.Porque,como diz o poeta Buarque”a dor da gente não sai nos jornais”.Então me vem á memória um texto que li,faz muitos anos e nunca esqueci.Numa aldeia árabe,nos tempos de Harun Al Rachid,o maior dos califas,uma mulher idosa conhecida por sua língua pérfida,levantou um falso contra um morador e sua mulher,coisa grave e os acusados foram levados á presença do cádi.Interrogados,sua inocência foi provada.O juiz,chamou a velha harpia e mandou que ela escrevesse num papel o nome completo das pessoas que ela acusou e que se revelaram inocentes.Depois,picotou o papel em mil pedaços que o simun,o vento do deserto,espalhou pelos quatro cantos do oásis.O juiz ordenou que a velha catasse todos os pedacinhos e recompuzesse o nome corrompido por ela.Claro que ela não conseguiu;o vento os levou por todo o deserto,as aves de rapina,engoliram alguns,outros caíram nos monturos.O juiz,então,condenou a velha a cem chibatadas,para que ela aprendesse,que,uma vez lançada uma calunia contra alguém,seu nome jamais sera recomposto e a mancha da dúvida pairaria sempre sobre suas cabeças,como o manto da desonra.Quando é,que aqui,nestas nossa terra ocidental civilizada,vamos exigir uma retratação desta nossa imprensa marrom,fantasiada de imprensa séria,pelo menos uma compensação financeira,qualquer coisa mais substancial que uma mera notinha de rodapé..
Miriam de Sales Oliveira
Enviado por Miriam de Sales Oliveira em 06/04/2008
Código do texto: T933487
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