Tiros no Escuro

Lembro de quando eu era criança e assistia desenhos animados aos montes. Não que eu seja menos criança do que eu era, porque ser criança não significa ser imaturo; e não que eu assista menos desenhos animados, mas minha atenção ultimamente tem tido prioridades muito menos divertidas.

Naquela época, entre cavernas de dragões, robôs gigantes de papelão, monstros de borracha, cavaleiros com poderes estranhos e uma imensa gama de bizarrices, havia um tipo de desenho que nunca me chamou muito à atenção. Um gênero fraco, tendencioso, alienante por assim dizer... não que eu soubesse muita coisa sobre isso...

Eram os bangue-bangues - se é que é assim que se escreve.

Nunca achei graça em pessoas atirando nas outras. Não como uma diversão infantil e descontraída. Tudo bem, admito que anos depois "matar carinhas" na tela do videogame se tornou um passatempo indispensável, e assistir os clássicos de Velho Oeste também se tornou bem nostálgico, mas convenhamos... nos tempos de criança?!?

Acabei de ler "Homo Videns", um livro ótimo e de linguagem fluida do autor italiano Giovanni Sartori, que trata sobre a interação TV-Homem e suas implicações desastrosa. Por coincidência o primeiro capítulo se trata justamente sobre isso: a incidência de valores distorcidos e A-morais (muitas vezes I-morais mesmo! Sim, há uma sutil diferença nos prefixos...) que fluem direto da mídia televisiva, direta e anti-crítica, para a mente de seus receptores.

Agora parem pra pensar. Crianças VÊEM muito antes de LEREM E ESCREVEREM, seu senso crítico NÃO é desenvolvido, embora sua mente absorva informações através de estímulos visuais. Algo óbvio! Afinal, o aprendizado mais simples é aquele intuitivo, baseado no ver-fazer. Pura repetição de exemplos... e quanto mais banais se tornarem, mais assimilados como "normais" e "aceitos" eles serão.

Isto é o que remete ao título deste post. Tiros no escuro. Tiros - e outras formas de alusão à violência - que preenchem o escuro vazio de mentes em formação. Mentes humanas influenciáveis, vulneráveis, inocentes. Ávidas por informações exemplares à serem seguidas. Analise que diferentemente dos dragões e monstros de desenhos de fantasia, que são temores psíquicos materializados, estamos falando de formas icônicas humanas, praticando a violência pura e simples contra seus iguais. E na maioria das vezes sem sentido... pobres índios... pobres crianças...

Da próxima vez que pensar em ligar a televisão, faça um favor para a humanidade e para seus filhos: ensine-os a ler um livro, de preferência um de fantasia. Com elementos criativos, educativos e que ilustrem a coragem e o respeito necessários pra torná-los pessoas de caráter. Mostre à eles este mundo inteligente e cognitivo da literatura ANTES do besteirol da televisão.

Não é fácil, é verdade... mas é melhor do que ter que ensinar, depois de tanto besteirol, que matar índios não é nada divertido...

Definitivamente, nada divertido.