Eu já enviei o e-mail!
Foi cômico quando, numa conversa com colegas, dávamos conta de que o procedimento de muitos gestores resume-se em encaminhar memorandos, que hoje, pelo avanço da tecnologia, passou a ser o envio de e-mails.
Lembro-me das pilhas de papéis que se acumulavam nos setores, os ditos “memorandos”, uma folha branca retangular, com grade em azul, um cabeçalho (de, para, assunto, etc.) e um campo reservado para o pedido, que, muitas vezes, por falta de objetividade do solicitante (ou medo de ir direto ao assunto) se excedia na escrita e ultrapassava o texto para o verso da folha.
Hoje são os e-mails. Dezenas, centenas ou milhares de e-mails que diária, semanal, ou mensalmente lotam as caixas de superiores, subordinados, executores e ordenadores de qualquer empresa. E, quando o solicitante, agoniado pelo tempo da espera, esbraveja por não haver tido retorno de seu pedido, a resposta prontamente disposta na “ponta da língua” do gestor é: “Eu já encaminhei o memorando!” e agora: “Já passei (ou repassei) o e-mail!”.
Era comum se encontrar mofando nas gavetas de algum setor uma solicitação importante para a organização, fato que deu origem à expressão: “ficou engavetado”. Que nome terá agora os pedidos enviados por e-mail que permanecem estáticos nas caixas de entrada do outlook?
Caro solicitante, seja você cliente ou funcionário que dependa de encaminhamentos de outras pessoas para continuar seguindo seu caminho, imagino como você se sente quando ouve como resposta: “Eu já enviei o e-mail!”. A resposta óbvia que emerge em silêncio de nossa razão é: “E eu com isso?!”. Sim, porque entende-se que a prática da boa gestão não se resume em enviar memorandos ou e-mails fazendo novos pedidos e somente deferindo ou indeferindo solicitações. Pelo contrario, pensadores atuais afirmam que o futuro pertence ao líder servidor, ou seja, as organizações precisam de pessoas com capacidade de articulação para efetivamente resolver as questões, pautando suas atividades em resultados reais e não unicamente em “encaminhamentos”.
Muitas vezes a morosidade da burocracia não se trata do processo burocrático em si, mas do comodismo de indivíduos.