Qual o espetáculo que precisa ser feito pela Universidade?
Há alguns meses publiquei um artigo intitulado “A Universidade na Sociedade do Espetáculo”, no qual questionava o papel da Instituição Universitária no mundo contemporâneo. Como conseqüência do modernismo, de acordo com Debord (1997), a sociedade atual se apresenta como uma sociedade de aparências na qual o “parecer ser” se sobressai em relação a essência do que realmente se é. Nesse contexto, questionei e provoquei a Universidade, que entendo ser a principal instituição capaz de propor “lances” criativos e inovadores que possam interferir positivamente nesta cultura convencionalizada pela “sociedade do espetáculo”.
Poderia ter aprofundado a reflexão, adentrando na separação que se criou entre o ético e o estético, ou ainda, demonstrar o ônus que a “sociedade do espetáculo” traz para a evolução do ser humano, enfim, ter melhor elucidado o conceito. No entanto, após receber inúmeros comentários de colegas que opinaram sobre o artigo, percebi que o mais importante era dar um passo além, ou seja, tentar prospectar qual o verdadeiro “espetáculo” que precisa ser apresentado pela universidade, e ainda, que tipo de “espetáculo” temos que construir para contrapor com a “sociedade do espetáculo”. Bem, a premissa da resposta me parece óbvia: um espetáculo melhor daquele que já é apresentado. Sim, mas quais indicadores dirão qual o melhor espetáculo? A “sociedade do espetáculo” responderá: o mais vistoso, o que mais aparecer e melhor impressionar. E a universidade, o que dirá? Arrisco adiantar: o que mais se comprometer com a felicidade do ser humano, incluindo suas dimensões física, mental, espiritual, de relação com o próximo e com o meio em que vive.
Como instituição promotora da ciência e do pensamento filosófico a universidade tem o compromisso de desafiar paradigmas, mesmo que estes paradigmas sejam uma conseqüência da história da sociedade ou ainda propostos pela própria ciência. Uma das grandes verdades sobre os paradigmas é que eles mudam. Na ciência, o paradigma evolui sempre que as abordagens antigas se revelam incompletas ou incorretas.
Vamos à um exemplo simples. A visão da “sociedade do espetáculo“ estabelece: mais aparência, mais visibilidade e capacidade de dissimulação = vida melhor, pessoas mais felizes e realizadas. Porém, dados atuais comprovam o número crescente de pessoas insatisfeitas com suas vidas. A conclusão é: a premissa da “sociedade do espetáculo” está incorreta.
Formar cidadãos e não somente profissionais tecnicistas, formar ao longo da vida e não somente em alguns anos, ver além do ensino formal – instigar para a pesquisa e sensibilizar para a extensão – dentre outros pontos que já afloram com vigor nas discussões da universidade são princípios que começam a formar a rede que poderá ser responsável por um novo espetáculo.
A trajetória é longa e desafiadora, forças emergem de todos os lados, favorecendo ou desfavorecendo a formação de um “novo espetáculo”, contudo, a universidade garantirá sua posição respeitada na sociedade unicamente se não cair na rede ilusória da “sociedade do espetáculo”.