Voto Facultativo

Continuamos reclamando. Da corrupção institucionalizada; da omissão das autoridades (e ás vezes até da conivência) na questão da segurança, como no Rio de Janeiro; das concessionárias de serviços públicos, com seus irritantes atendimentos automáticos que muitas vezes frustam a nossa reclamação; das pessoas que morrem nas filas de atendimentos dos Postos de Saúde; etc., etc.

Mas precisamos ir um pouco mais além. As próximas eleições não serão suficientes para determinar alterações de vulto no panorama atual. O quadro institucional será praticamente o mesmo, em que pese o número de eleições já realizadas. As nossas reclamações, e muitas outras, haverão de persistir, embora possamos admitir que “ainda há esperança”.

Essa esperança talvez devesse passar pela necessidade de se tornar o voto facultativo. É preciso que a carreira política deixe de ser atraente, sob o ponto de vista da realização apenas pessoal. A realização pessoal deveria decorrer do maior beneficiamento possível que se pudesse colocar ao alcance da coletividade, e não das maiores vantagens possíveis que se possa conseguir com o cargo. Ou da maior quantidade de dinheiro que se possa colocar dentro do bolso.

O que faz o político investir pesadíssimas somas na sua eleição é a certeza do retorno, normalmente superior ao investimento. Por isso eles priorizam os interesses pessoais, em que se incluem os atendimentos a familiares e amigos, em detrimento dos coletivos.

O voto será uma arma muito mais poderosa quando ele puder ser usado voluntariamente, e não por obrigação. “Como temos que eleger um”, elegemos QUALQUER um. Com o voto facultativo os políticos teriam que se aprimorar mais. Fariam menores investimentos porque não teriam certeza de serem eleitos e, consequentemente, do retorno. Cuidariam mais da sua imagem pública, do comportamento perante a sociedade. Ficaria dessa maneira reduzido o espaço para as candidaturas levianas (e de pessoas irresponsáveis e até criminosas) que visam prioritariamente a proteção pessoal através da imunidade (impunidade) parlamentar. Excrescências como essa - a imunidadede parlamentar - estariam com seus dias contados. O voto facultativo tornaria o cidadão mais politizado, mais consciente de que as conquistas sociais dependeriam da sua atuação, estritamente vinculada às exigências e pleitos da comunidade que o elegeu. E, em conseqüência, uma politização maior do cidadão se daria com o aperfeiçoamento do nível dos candidatos.

Embora estejamos longe de achar que seja uma panacéia, esse tipo de voto, o facultativo, poderia efetivamente mudar a história do Brasil. Com ele, sim, não haveria “mais lugar para a mediocridade, para o nepotismo, para a barganha”.

Copiamos tantas coisas dos americanos (o Outback, a Barra é a Miami carioca, etc., etc.), por que não copiar também a maneirar de votar? Que, aliás, é a da França, da Inglaterra, de Portugal, etc., etc.

Rio, 31/08/2000