A PROFESSORA APANHOU DO ALUNO

Acredito ser esta a primeira vez em que um fato desse tipo acontece. Naturalmente é o momento de se refletir sobre um evento, no mínimo, trágico. “Que país é esse?” foi a pergunta de Renato Russo que morreu e não pôde reformular a questão para “Que mundo é esse?” onde a ira dos jovens se volta para professores, colegas e até para os próprios pais.

Os estudiosos de várias áreas e os religiosos de quase todas as religiões buscarão respostas. Por detrás da cortina de metódicos estudos e preces inflamadas, novos e imprevisíveis crimes estão sendo gerados. E o mundão abandonado, não mais atônito, mas anestesiado. Religiosos pedófilos, filhos matando pais, pais matando filhos e professoras apanhando de alunos.

Certamente as características do mundo pós-moderno têm a maior parcela de contribuição para a construção desse mundo caótico onde algumas ilhas de suposta paz, os paraísos providenciados pelo poder econômico, se regalam de forma egoística.

E a nossa professora, o que estará se perguntando em meio às regras gramaticais tão duras e aos textos que falam de uma falsa cidadania?

A cidadania presente nos textos funciona para os habitantes dos paraísos egoístas e surdos ao clamor da massa humana. Não há cidadania para a professora e menos ainda para seus alunos, muitos deles párias sociais.

Nisto tudo há um efeito ainda sem nome, ou sem uma denominação mais adequada. Trata-se da teia de onde a aranha-rainha faz movimentar um sistema no qual os paraísos fiquem a salvo e todos os outros indivíduos ouçam, acreditem firmemente e repassem um conjunto de mentiras. A professora é escolhida obreira, inocente útil que perpetua a dominação, inclusive de si mesma. Aqui e ali está a mestra enganada contando mentiras e dando esperanças de uma cidadania-miragem, engolindo a fome com a ilusão, plena que se encontra de ideais utópicos. Vai que o aluno, mais jovem, mais vivido na miséria das ruas e transformado em rato, descarrega a desilusão no primeiro que lhe aparece à frente, neste caso, sovando a indefesa professora.

“Trair e coçar... é só começar”, bem o diz Marcos Caruso. Bate-se, pois, a primeira professora, mas não é a primeira mulher que apanha num país e num mundo covardes. O principal motivo para se bater uma mulher, seja ela professora ou puta, não é a fome ou o caos social, é a covardia mesmo.