PRA ONDE VAIS?

Difícil, muito difícil demonstrar aos mais jovens a Manaus do final da década de 1960, quando o decreto do presidente Castelo Branco criou a Zona Franca de Manaus.

Na época em que o mundo dava seus grito de liberdade; os Hippies surgiam para contestar valores tidos como eternos; o Women’s Lib apregoava que as mulheres tinha direitos iguais, direitos sobre seu corpo, inclusive para praticar aborto; os jovens homens deixavam crescer seus cabelos e as mulheres o usavam curtinho; as mulheres – supremo desafio ao status quo da época – apresentavam-se até em igrejas de calça comprida, o chamado slack e não raramente era expulsas por estarem inadequadamente vestidas.

Na indústria automobilística a Volkswagen engolia a DKW, a Ford devorava a Willys Overland criadora do Jeep. Enquanto lançava o Corcel, para concorrer com o fusca, a paixão nacional, a Scania Vabis completava 10 anos no Brasil , com sua fábrica de caminhões pesados, a Mercedes Bens do Brasil abandonava o caminhão cara chata, para lançar o modelo 1111, consolidando sua posição nas estradas brasileiras.

Foi nesse clima de euforia mundial que surgiu a Zona Franca de Manaus, cidade com menos de 300.000 habitantes. Seis vezes menor que hoje. Na época o referencial de “centro” para esta população era Belém, cidade bem mais desenvolvida e maior, com quase o dobro da população. Ou, ainda para os de posses maiores, o ex-distrito federal, Rio de Janeiro, que representava e ainda representa o modelo brasileiro de cidade a ser visitada.

No mercado de Manaus encontrava-se ainda carne de peixe-boi livremente. As verduras se limitavam ao cheiro verde, composto de cebolinha, chicória e o onipresente coentro. Frutas de época havia muitas, embora não cultivadas tecnicamente. Comer galinha era coisa para doentes ou mulheres paridas. Frango de granja começava a ser criado na região sul e demoraria muito a chegar até aqui. Peixes havia de sobra, bem como algumas carnes de caça.

A diversão ficava por conta de cinema e rádio. A televisão, que veio mais tarde, “transmitia” programas em vídeo tape, gravados na semana anterior, nas emissoras do Rio e São Paulo e trazidas de avião. O telefone era quase inexistente. Quando se conseguia uma ligação para fora de Manaus, tinha que se falar tão alto, gritar mesmo, dando a entender que o aparelho era desnecessário. O rádio amador e ondas curtas era um aparelho muito usado.

A Zona Franca vive da exceção. Se no Brasil houver uma drástica redução de impostos, os incentivos dado ao Pólo Industrial de Manaus perdem seu atrativo. O Governo Collor fez algo assim em 1990. Liberou as importações e acabou com o comércio da Zona Franca. Assim paradoxalmente, para que indústrias continuem a vir a Manaus, é necessário que o restante do Brasil continue pagando impostos altos. Historicamente, seria apenas uma “devolução” do montante pago na época da borracha, quando o Amazonas sustentava, com impostos, toda a despesa da máquina do Brasil Imperial.

Contudo, a renúncia fiscal, que serve de incentivo às indústrias do PIM, não diminui em nada a arrecadação dos governos Federal e Estadual, porque há reinvestimento e aumento da produção. Porém, traz em seu bojo uma vantagem adicional que está sendo percebida agora: A superconcentração de renda em Manaus preserva o restante do estado do Amazonas. Assim, a indústria da transformação incentiva a preservação da floresta. E a renúncia fiscal representa uma taxa pequena, simbólica até, para a grandeza que é a manutenção das florestas e rios. Cabe ao governo buscar parceiros internacionais para compensar a arrecadação.

Essa deve ser a tese a ser defendida por empresário e governos locais, pegando uma carona no modismo que se transformou falar em meio ambiente. Enquanto ONGs irresponsáveis tentam boicotar a produção de alimentos na Amazônia, o Pólo Industrial de Manaus é bem visto por todos, embora distante da cultura original do povo manauara. Estaria na hora dessas ONGs trazerem incentivos palpáveis para que, a exemplo do PIM, o morador do interior não tivesse necessidade de depredar.

A Suframa, que nesses 41 anos, dedicou a maior força no setor industrial, agora deverá redirecionar os incentivos para o lado do turismo, em projetos ecologicamente corretos. Assim talvez, depois da madura, atinja os objetivos iniciais do decreto pelo qual foi criada, que é o de investir 10% de tudo, no interior. Não em projetos de industrialização, agricultura ou pecuária, mas na indústria do turismo, que é aquela sem chaminé, e que, além de não agredir, pode contribuir na preservação do meio ambiente.

A Suframa está de parabéns pelas conquistas. Se olharmos para trás, veremos as mudanças que ocorreram para melhor, nesses 41 anos. Se antes o sonho do Amazonense era sair de Manaus em busca de oportunidades, hoje vemos milhares de pessoas chegarem a Manaus porque pensam que aqui é a Terra da Promissão.

Por outro lado, se olharmos para frente, veremos que mal damos os primeiros passos num leque de possibilidades que mal foram aventadas até hoje. A Amazônia sempre foi grande, agora o homem está aprendendo a usá-la, sem machucá-la. A Suframa tem um papel importante nessa mudança.

Luiz Lauschner é empresário, escritor e membro do conselho nacional da Abrasel.

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Luiz Lauschner
Enviado por Luiz Lauschner em 21/02/2008
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