A POESIA É POSSÍVEL

Tem coisas que a gente adora e tem outras ...detesto a pergunta sobre se a poesia é possível. Mas o que dizem Antonio Naud Júnior e Eugenio Montale me faz encontrar sentido para a tal pergunta:

“Vivemos no tempo do desencanto da poesia. “É ainda possível a poesia?”, esse o título que Eugenio Montale deu ao seu discurso quando recebeu, em 1975, o Prêmio Nobel. A resposta continha ainda alguma esperança. Mas os condicionalismos perversos que se faziam sentir, não deixaram de se agravar de um modo sempre mais e mais lamentável. O mundo atual, com as legiões de robotizados, a crueldade urbana, a miséria gritante, a infindável guerra do Iraque, a corrupção, a politicalha fascista, a poluição, a péssima formação educacional, os amores descartáveis, a imprensa chinfrim e o vazio generalizado, tornou-se um espetáculo inominável. Um festival de bajulados e bajuladores, de individualismo, vaidade e tolices sem espaço para Lúcio Cardoso, Cecília Meirelles, Cornélio Pena ou Octávio de Faria. Só é bem informado quem assiste ao Big Brother, telenovelas, Faustão e Jô; ouve Ivete Sangalo, Zezé de Camargo e Luciano; lê a Veja, Lya Luft e outros autores (?) de auto-ajuda. O avanço tecnológico acelerado parece que atrofiou mentes e estrangulou sensibilidades”.

“As edições de poesia diminuem as tiragens, os jovens lêem cada vez menos, e de poesia bem pouco. As editoras e os suplementos literários reservam um espaço cada vez mais exíguo aos poetas. São os párias modernos. Perante tudo isto, será a poesia um refúgio, um subúrbio da melancolia? E o que leva um homem como Antônio Carlos Secchin, gentil, cheio de talento, crítico sagaz, a escrever empenhadamente versos? Só a palavra é o caminho, talvez este o primeiro passo da arte poética do autor. No mundo bandido à sua volta, nele, não se detém – o poeta coloca a palavra certa na imagem íntima do verso, a palavra que sussurra o próprio tempo”.

E vejam os leitores deste texto quanta razão têm os dois citados, lendo o poema de Antônio Carlos Secchin, Imortal da Academia Brasileira de Letras:

Noite na taverna

1

Senta uma puta perto da taça.

Arde uma tocha acima da mesa.

Salta uma estrofe em cima da coxa.

Nasce um poema a toque de caixa.

Fora, uma virgem dorme na lousa.

Ri-se o poeta em torno da brasa.

A mão do poeta passeia na moça.

O seio da moça é uma pétala gasta.

2

Crepúsculo, vinho, hemorragia:

vai vermelha a voz da poesia.

A vida só vale o intervalo

entre início e meio de um cigarro.

Traga, taverneira, algo bem ríspido,

afogue em rum qualquer sonho nosso.

Brindemos ao que esconde o futuro:

metáforas, sífilis e ossos.

Além da inteligência, o que me chamou a atenção em Secchin foi o fato de haver prestigiado, em seu discurso de posse, dois poetas: Cecília Meirelles e Carlos Drummond de Andrade.

“Assim gostaria de entrar na Academia Brasileira de Letras: entendendo-a como fronteira franqueada ao livre trânsito de todas as temporalidades. De um lado, receptáculo de nossas mais fundas, atávicas, heranças; de outro, passagem para a paisagem do novo. Neste discurso, balizado por dois poetas, a primeira palavra, acolhendo o passado, foi de Cecília Meireles. Que a última seja de Carlos Drummond de Andrade: ‘Ó vida futura! nós te criaremos”.

Muito interessante tudo o que o jovem Imortal colocou numa entrevista concedida ao estudante Sérgio Narcizo - Campus Méier, inclusive sobre a dedicação à causa dos sebos. Entetanto gostaria de lembrar a Antônio Carlos que o livro”é dos raros produtos culturais que não sofre com a eletrônica”. Mas alguém pode sim ler um livro eletrônico “na cama ou na rede, “ou sob a copa de uma árvore”. Para tanto, aí está o avanço das novas tecnologias. Parafraseando Drummond, a vida futura que estamos criando. Além de tudo, quero ser lida por Secchin justo nos meios eletrônicos.

http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=171&sid=217

http://www.jornaldepoesia.jor.br/asecchin7.html

http://www.estacio.br/rededeletras/numero1/coluna_das_tracas/sebo.a

http://www.vialitterarum.com.br

http://www.revistazunai.com.br/officina/arquivos/literais/resenhas/antonio_carlos_secchin_naud_junior.htm

http://www.revista.agulha.nom.br/asecchin1.html#taverna