O SONETO DE ARVERS (para não dizer que não toquei no assunto)

Quem acredita que uma mulher seja a tal ponto fiel que não perceba uma declaração de amor?

Eu, como mulher, afirmo ser impossível se a mulher está no completo domínio de sua saúde mental. Se há um animal com mais antenas para perceber o interesse de outro, seja de igual ou diferente sexo, este ser ainda não foi apresentado. Acredito mais que a musa inspiradora do Soneto de Arvers não simpatizava, a química não batia com a do autor _ “sombra inapercebida” _ da célebre composição poética. Como pode uma mulher amar alguém que declara “... nada ousar pedir e sem um só lamento” (n'osant rien demander, et n'ayant rien reçu.): um pobre coitado que murmura “de amor” e “que sempre a seguirá”?

As mulheres, infelizmente, ou felizmente, não sei, gostam mais do perigo, da ousadia e da intrepidez. Incluo a este breve comentário a tradução de Guilherme de Almeida daquele considerado o mais belo soneto do século XIX, traduzido para a língua portuguesa e diversos idiomas:

Soneto de Arvers

Tenho na alma um segredo e um mistério na vida:

Um amor que nasceu, eterno, num momento.

É sem remédio a dor; trago-a pois escondida,

E aquela que a causou nem sabe o meu tormento.

Por ela hei de passar, sombra inapercebida,

Sempre a seu lado mas num triste isolamento,

E chegarei ao fim da existência esquecida

Sem nada ousar pedir e sem um só lamento

E ela, que entanto Deus fez terna e complacente,

Há de, por seu caminho, ir surda e indiferente

Ao murmúrio de amor que sempre a seguirá.

A um austero dever piedosamente presa,

Ela dirá lendo estes versos, com certeza:

"Que mulher será esta?" - e não compreenderá.

(tradução de Guilherme de Almeida)

Eis agora o texto no original:

Mon ame a son secret, ma vie a son mystère,

un amour eternel en un moment conçu;

Le mal est sans espoir, aussi j'ai dú le taire,

et celle qui l'a fait n'en a janais riens su.

Helas! j'aurai passé près d'elle inaperçu

toujours à ses côtes et toujours solitaire;

et j'aurai jusqu'au bout fait mon temps sur la terre

n'osant rien demander, et n'ayant rien reçu.

Pour elle, quoique Dieu l'ait faite bonne et tendre,

elle ira son chemin, distraite, et sans entendre

ce murmure d'amour elevé sur ses pas;

à l'austère devoir pieusement fidèle.

elle dira, lisant ces vers tout remplis d'elle,

"Quelle est donc cette femme"?" et ne comprendra pas....

Aí está, no último verso do soneto de Felix - Alexis Arvers, nascido em Paris a 23 de julho de 1806, e falecido em 7 de novembro de 1850, no hospital de nome "Maison Municipale de Santé", em Paris _ a grande pergunta: "Quelle est donc cette femme?”

Ela não entendeu , eu também não, mas que o soneto é belíssimo, disto não resta dúvida alguma.

http://www.umacoisaeoutra.com.br/literatura/traducao.htm

http://www.jgaraujo.com.br/nomundo/nunca_paris_primeira_vez.htm

http://www.jgaraujo.com.br/nomundo/nunca_paris_primeira_vez.htm

http://www.secrel.com.br/jpoesia/wilsonmartins020.html

http://www.clubedapoesia.com.br/mestres/mesarverscont.htm