O MEU 1968
“Todo homem tem uma vida no mundo que pode ser histórica se ele quiser”
QUARUP
Quarenta anos depois, segundo a revista Época de sete de janeiro de dois mil e oito, 68 continua enigmático, estranho e ambíguo como um adolescente em crise existencial, e registra bem o que ocorreu no Brasil e no mundo nesse período.
No final desse intrigante ano, recebi meu certificado de conclusão do Curso Científico, no Instituto de Educação Estadual “Otoniel Mota”, assinado pelo professor de Português e diretor Jerônymo Feltre e pelo ex-diretor e professor de História, Dr Romero Barbosa.
Tempo de bons professores : Sônia Rita Parisi, Décio Carlos Setti, Márcio De La Corte, Luci Musa Julião, Sebastião ( de Química), Miguel Mauad Neto, e dos colegas de sala: Julio Tsutomo Sakamoto, João Carlos Figueiredo e Morymoto, João Paulo Sterman Ferraz, Cláudio Kirner, Maria Laura e Clélia Gabarra, Norma Maria Bellini , Nilce, Miguel Guaselli, Gastão...
Durante 68 acordei todos os dias por volta das 4 e meia da manhã para ir ao Tiro de Guerra onde recebi das mãos do Prefeito, Dr Welson Gasparini — no dia do juramento à Bandeira, na Cava do Bosque — uma medalha de 1º. lugar no Curso de Preparação de Cabos: lembro-me bem dos Sargentos Osny, Carneiro, LIma e Canhete, e dos colegas/convocados de turma: Ansalone, Carlão (Assis) da lambreta e o Djair, Fabris, Mói, Eduardo, Emerson Leão (atual técnico do Santos F.C.), Cebollero, Zucolloto, Sales, Marques, Bonani, Gironi, Mizuta, Monteiro, Canhoto, Galo, Salomão, Proti, Castro, Farnesi, Faria.
Meu ano de 68 foi tempo de muita paquera, primeira namorada, primeiro beijo, tempo de CREJUC, de “Love is Blue”, de primeiro emprego e primeiro salário no BBC - Banco Bandeirantes do Comércio, de jogo de futebol na quadra do Ateneu Barão de Mauá, de travessa Helena e rua Cesário Mota, de Cine Cairo no Jardim Paulista, de novela “Antônio Maria”, da “Última Canção” de Paulo Sérgio, de colecionar Conhecer e a Bíblia em fascículos, adquiridos na Agência São Paulo, de escrever poesias, e de estar com os amigos : Ronaldo, Nanci, Domingos (Nego), Luizinho e Luizinha, Ângela, Anderson, Roselis, os irmãos Valter e Valdir Restini, as irmãs Marilene e Marilisa (Bisa) , Paulinho e Beto Bérgamo, Rosária Gonzaga, César, Dirce, as irmãs Diva e Celene , Elci e Edna Engrácia, Beatriz, Tico, os irmãos Targino e Leonor, Tereza e Rosa, Cecília, Faria (da oficina mecânica)
Em 68 fui, pela primeira vez , e única, 2º. Secretário, da 3ª. secção do setor 15, nas eleições que elegeram Nogueira (ARENA) para Prefeito de Ribeirão Preto, li dezenas de livros da Biblioteca Altino Arantes, diverti-me em muitas brincadeiras dançantes, regadas a cuba libre, na casa de amigos, vivi intensamente no meu pequeno universo, como milhões de outros brasileiros, enquanto o mundo lá fora se debatia em movimentos coletivos de minorias , causas arriscadas, drogas, sexo, ética na política, ditadura.
Politicamente, nunca fui nem de direita e nem de esquerda, mas sempre fui visceralmente contra qualquer forma de poder autoritário e a favor de qualquer movimento em defesa dos direitos civis: sou pela liberdade e, em meu diário, de onde retirei parte de minhas lembranças, sempre registrei as injustiças que pude presenciar e busquei efetuar mudanças que estivessem ao meu alcance, no meu pequeno mas vital espaço.
Então com 19 anos, 68 não foi o pior e nem o melhor de minha vida: foi inesquecivelmente marcante.
ANTÔNIO CARLOS TÓRTORO
Ex-presidente da Academia Ribeirãopretana de Letras