Raízes da Violência. Por Meraldo Zisman
Para muitos desses jovens, a violência não é uma opção; é uma adaptação ao ambiente em que vivem, uma resposta ao descaso que os rodeia.
A violência contra os jovens no Brasil é uma tragédia que está se tornando cada vez maior, consequência direta de um ciclo de negligência e abandono contínuo. O fenômeno, que atinge grandes centros urbanos e comunidades periféricas, revela a fragilidade de um país que, ao negligenciar a educação infantil, gera adultos que reproduzem a violência que sofreram desde cedo.
A frase “A criança é o pai do homem” deve ser reformulada para “A criança negligenciada é o pai do jovem violento”. As estatísticas de homicídios juvenis no Brasil não são mais surpreendentes, mas sim a confirmação de um processo social em desintegração. O jovem que possui uma arma e comete um crime violento, muitas vezes é o mesmo que passou anos sendo ignorado pela escola, abandonado pela família e esquecido pelo Estado. É a consequência de um sistema que não oferece suporte emocional, social ou educativo desde os primeiros anos.
Nas favelas e bairros periféricos do país, o “efeito em cascata” das adversidades enfrentadas na infância é uma realidade que molda o destino de milhões de crianças. Essas crianças, muitas vezes criadas em ambientes de extrema pobreza, onde a ausência de cuidados adequados e o acesso a serviços básicos são luxos inalcançáveis, crescem sem as ferramentas necessárias para lidar com a vida de forma saudável. Para muitos desses jovens, a violência não é uma opção; é uma adaptação ao ambiente em que vivem, uma resposta ao descaso que os rodeia.
O efeito começa desde cedo. A criança que enfrenta problemas sociais e acadêmicos na escola fundamental, que mora em um lar onde os pais estão ausentes ou incapazes de oferecer apoio, acaba encontrando refúgio nas amizades com outros jovens em situação semelhante. Formam-se grupos onde a delinquência e a violência se tornam elementos de identidade, uma forma de pertencimento. Sem o apoio familiar ou institucional, esses jovens tendem, inevitavelmente, ao crime. É claro que intervenções são necessárias, mas o Brasil, assim como diversos outros países em situação semelhante, adota soluções paliativas.
Programas de reabilitação e campanhas de prevenção não conseguem lidar com a dimensão do problema. O sistema educacional está desatualizado, os serviços sociais são insuficientes e as políticas públicas, muitas vezes, não passam de discursos vazios. Enquanto isso, a violência entre os jovens se torna uma epidemia, deixando uma série de vítimas e vidas destruídas.
O Brasil parece preso a um ciclo vicioso. O jovem violento é consequência de uma infância negligenciada, o que, sem mudanças significativas, resultará na geração de futuras gerações de crianças igualmente abandonadas. O país falha, sistematicamente, em interromper esse ciclo, que se perpetua e alimenta o aumento da criminalidade e da insegurança. A violência juvenil no Brasil não é uma ocorrência, nem um fenômeno inesperado. É o resultado de uma sociedade que, ao fechar os olhos para suas crianças, cria adultos à margem da lei, que veem no crime uma forma de vida.
A frase “A criança negligenciada é o pai do jovem violento” expressa com clareza a dura realidade de um país que insiste em negligenciar o seu futuro. Se continuarmos a falhar com nossas crianças, pagaremos o preço dessa violência, todos os dias, nas ruas por sangue e vidas perdidas.