A POESIA DE PAULO EMÍLIO

Os sonetos de Paulo Emílio são textos irretocáveis, tanto na essência quanto na forma. O eu lírico se revela em nuances suaves e de uma candidez comovente como na visão das garças da Praia 13 de Julho:

São imagens constantes do passado

De minha infância, alegre, ingênua, quando

Vi-as passar, serenas, lado a lado,

Asas soltas, tranqüilas, sempre em bando!

O poeta se reveste do esplendor clássico e do profundo sentir romântico, amando a exuberância da natureza como o faz com as garças e como se expressa no soneto Aquela praça:

Volto a rever aquela antiga praça

Dos meus tempos saudosos de criança

Quando a vida era alegre, ingênua e mansa

Como as águas de um lago... o tempo passa,

Mas ficam permanentes na lembrança

Recordações que a gente nunca esquece:

– Um sorriso, uma lágrima que desce,

O desejo que morre e não se alcança...

Como tudo mudou! Ali em frente

As árvores amigas... Ah, revê-las!

Já não dão sombra como antigamente!

O banco torto onde eu sentava e ouvia

O sussurro das aves tagarelas...

Quanta felicidade!... E eu não sabia...

Paulo tece com sua inspiração um desenho onde, tomado de êxtase poético, ilumina paisagens cheias de recordação como em O Atheneu de meu tempo.

Eu me lembro, eu me lembro – Que saudade!

Dos seus longos e alegres corredores,

Um pequeno jardim, algumas flores,

Era o melhor ginásio da cidade.

Essa que passa é um poema no qual o autor observa a beleza feminina num tom de suave sensualidade, de carinho e de ternura:

Corpo ondulado, não há quem resista!

Cabelos negros, braços lindos, cheios

De encanto e graça. No decote à vista

Vêem-se lindos e mimosos seios!

O uso da palavra bem colocada, o apuro da construção de cada verso, de cada estrofe e a cadência das rimas fazem desse escritor uma referência poética, uma voz que redime a arte de escrever dos pecados de inúmeras produções sem valor literário que inundam o mercado editorial de nosso tempo.

O canto da poesia de Paulo Emílio deve vencer as barreiras naturais da timidez e dos questionamentos que fazem a si mesmos, geralmente, os melhores escritores.

Aju, 19/06/2007

Dr. Paulo Emílio Lacerda é médico ginecologista e obstetra.