40 BILHÕES ?
O presente que a oposição no Senado da República deu ao povo brasileiro, no limiar de 2008, pode ser um freio contra a voracidade do governo em arrecadar cada vez mais, mais e mais. O governo, que mostra muito maior eficiência na arrecadação que na melhoria dos serviços, vai ter mexer fundo em suas metas no ano que se inicia.
Cifra inimaginável para um reles mortal, quarenta bilhões não são um valor incalculável para os burocratas do ministério da fazenda. São um pouco mais de R$ 200,00 de cada cidadão brasileiro. Porém, juntado num único bolo, desafia nossa capacidade em mensurar a quantia. Nós podemos fazer um ensaio, comparando aos bens nossos de cada dia, para ver o que poderíamos adquirir com esse dinheiro:
- Um milhão e meio de carros populares é um cálculo fácil. Poderíamos presentear a quase todos os habitantes de Manaus com um carro zero quilômetro.
- Uma boa casa, no valor de 80.000,00 para cada uma das 500.000 famílias manauaras.
- Contratar seis milhões de médicos a um salário em torno de R$ 7.000,00 mensais.
- Pagar as mensalidades de sete milhões de universitários por um ano.
Agora, com o fim da CPMF, onde o governo irá buscar dinheiro para suas necessidades ou para seus gastos nem tão necessários? O Presidente Lula diz que o governo deve dobrar-se ante a vontade da maioria e adaptar os gastos às receitas. O governo deverá fazer o que todos fazem em casa. Diminuir gastos quando o dinheiro diminui.
Quando falamos governo, falamos nos três poderes. Os congressistas também devem viver com menos mordomias. Os cortes nas despesas muitas vezes não representam valores suficientes para compensar as faltas na arrecadação, mas têm um efeito didático muito positivo. Um deles talvez seja o respeito com o dinheiro público.
Neste ano de 2007 o Brasil também aprendeu a questionar o Poder Judiciário. Outro sumidouro de dinheiro público cuja eficiência não se vê nos resultados. A chamada Justiça do Trabalho ainda continua consumindo muito mais que o Congresso Nacional com seus Renans e tudo mais. Para muitos, a Justiça do Trabalho só serve para estimular questiúnculas que em nada ajudam o salário e o emprego. Também ajuda a aumentar a rotatividade e a baixar os salários. Muitos empresários preferem deixam os salários no patamar mais baixo, uma vez que a justiça, por conta própria, amplia direitos do trabalhador na hora da saída.
Apesar da afirmação do Presidente Lula, ninguém, em sã consciência, acredita que o governo seja capaz de substituir 40 bilhões com pequenos cortes. Haverá, se não um aumento, um rigor muito grande na fiscalização da arrecadação de impostos. Podemos esperar outros shows pirotécnicos de prisão de “sonegadores” enquanto os políticos do alto escalão se livram com discursos ardorosos, em que se dizem injustiçados. Em outras palavras: O contribuinte precisa pagar mais, enquanto o ladrão dos cofres públicos não devolve nada.
Se essa ótica for invertida, respeitando o dinheiro público o governo não precisará gastar menos, mas melhor. Assim o impacto da “renúncia” dos quase 40 bilhões poderá ser amortecido.
A bem da verdade, o brasileiro – como qualquer cidadão em qualquer parte do mundo – não está muito preocupado se o governo tem sobra de caixa. Ele quer ter seu dinheiro no bolso, de preferência sem que o governo saiba exatamente quanto. Inverter para sempre a frase infeliz do presidente Médici na época da ditadura militar: “O Brasil vai bem, o brasileiro vai mal.”
Feliz 2008.
Luiz Lauschner – Escritor e empresário
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